terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ah, look at all that lonely people,
Where they all come from?
All that lonely people,
Where they all belong?
(Eleanor Rigby – The Beatles)


E ele olhou em volta.
Ele já havia visto tudo aquilo antes, e não era um dejà-vu.
Uma cena idêntica veio à sua memória.
Uma festa, há anos atrás.
Olhou para aquele garoto sentado em um canto, infeliz em meio à felicidade alheia.
Todos alegres naquela festa.
E ele se sentia um peixe fora d’água.
Não se sentia parte daquilo.
Não pensava o mesmo que aquelas pessoas.
Não viu apenas uma festa, mas várias outras situações similares.
Aquele pequeno garoto se sentia sozinho.
Não que fosse solitário.
Geralmente estava cercado de pessoas.
Quem o visse não saberia o quão sozinho era.
Ele podia estar sozinho em um canto, mas logo surgia alguém para chamá-lo, para conversar com ele.
As pessoas podiam elogiá-lo o quanto fosse, ele não acreditava realmente.
Tinha sempre a impressão de ser insuficiente, desnecessário, de que tudo ali correria muito bem sem ele.
A sensação de ser figurante, personagem secundário em uma peça sem importância.
E não havia admiração, não importava o quanto aparecesse, o quanto se destacasse, isso apenas lhe dava a impressão de estar contrariando sua própria natureza.
E ao mesmo tempo, sabia que não podia estar sozinho.
Não era nenhum alívio ficar apenas com as próprias lembranças como companhia, a não ser em casos de felicidade excepcional, mas esses eram episódios esporádicos.
Quando não havia ninguém para elogiá-lo ou encorajá-lo, ele parecia minúsculo, e seus sonhos, inatingíveis.
Pretensiosos até.
Era demais imaginar que ele poderia ter tudo aquilo com que sonhava.
Aos olhos de um observador externo, poderia até ser o personagem principal, mas, ele sabia ser apenas o camponês número três.
Insignificante demais para contracenar com ela, no final.
Insignificante demais para que o roteirista se interessasse em lhe dar um final feliz.
Por mais que o chamassem para protagonista.

Um comentário:

carinagabriele disse...

Me identifiquei bastante. Às vezes me sinto uma estranha nesse mundo. E, pode ser que não, mas as pessoas mais solitárias são aquelas que na maioria das vezes estão cercadas de gente e mesmo assim sentem um grande vazio.

O outro texto tb tá muito bom!
Beeeijo.