sábado, 15 de novembro de 2008

A la Cobain.

Ah, é aquele delírio adolescente clássico, que sempre passava pela sua cabeça.
Aquilo de ter seu próprio ônibus, com os instrumentos todos no bagageiro.
Ok, o violão está lá em cima, com a banda, pois nunca se sabe quando aquele clássico pode sair.
Indo pra um show, com pessoas interessadas em pagar para ouvir o que tinham a dizer, loucas por seu som, por seus solos e suas letras.
Mulheres, meu rapaz, mulheres.
Aquilo tudo tinha surgido como um turbilhão em sua vida.
Em um dia estavam lá tocando músicas alheias.
De repente, músicas começam a sair, que nem achavam que fossem tão boas assim.
As pessoas simplesmente começaram a gostar, e a aparecer.
Começaram a ser convidados.
Um dia, surgiu um sujeito com um contrato de gravadora.
Logo, havia toda aquela vida de um rockstar, de chegar com sua roupa estranha e óculos escuros em um aeroporto qualquer, das mulheres, da puxação de saco.
Da admiração.
Haviam multidões e bons hotéis, mas faltava alguma coisa.
Não era tão bom quanto quando se hospedavam em bibocas para tocar para cem pessoas.
Viu que a platéia estava cheia daquelas pessoas qeu estava justamente tentando evitar, quando montou sua banda, justo as pessoas que criticava, que desprezava.
Sim, elas eram boa parte de seu sustento, e não havia nada que pudesse fazer a respeito.
À noite, havia sim bons shows, aqueles qeu lhe davam satisfação e alegria, mas, em boa parte das vezes, não queria estar lá.
Mas bem, havia uma turnê, contratos e dinheiro
Havia de tudo, ali, no meio, a não ser pelo velho espírito, pela espontaneidade.
Olhava sua banda, e via um bando de idiotas deslumbrados pelo sucesso, que haviam se esquecido de tudo pelo que haviam passado.
As idéias que tinham antes, trocaram por belos carros, casas, modelos, Jack Daniel's e heroína.
Não se reuniam mais na casa um do outro para jogar conversa fora, ou falar dos novos cds que andavam ouvindo, não faziam um churrasco.
Quando um se casou, para se separar logo em seguida, alguns certamente só foram porque haveriam fotógrafos, montes deles, sem falar da bebida.
Tudo que ele tinha sonhado estava se desmanchando à sua volta.
O sucesso que havia buscado tanto não era o que esperava, não podia ir à padaria em paz, queria parar tudo aquilo. Puxar a cordinha e descer no próximo ponto.
Não parava com aquilo tudo porque achava que ainda havia, em algum lugar, gente que fazia tudo aquilo valer a pena, garotos como eles eram, no começo, garotas como as que conheciam, no começo, gente de verdade. E também, tinha que ser franco consigo mesmo, o dinheiro estava caindo muito bem. Não podia parar tudo aquilo, naquela hora. Pessoas contavam com sua presença, com sua voz e sua Les Paul.
Quando não estava no palco, queria estar lá mais que qualquer coisa. Quando estava, queria estar em qualquer outro lugar.
Porque toda aquela atenção, porque tudo aquilo?
Conehcia muitas bandas por aí bem melhores que a sua, conhecia pessoas que mereciam bem mais. Não era perfeito, mas era idolizado. Não era ou queria ser um guru, mas estava sendo seguido.
Deu no plantão da globo, interrompendo a novela das oito. O carro de um rockstar tinha dado de frente com um caminhão. Suspeita-se que estivesse bêbado. Era ele.
Foi levado pro hospital, operado, mas não adiantou nada.
No enterro, montes de pessoas choravam e carregavam velas. Em algum lugar, ele se perguntava o porque daquilo tudo, aquelas pessoas não o conheciam, ele não deveria ser nada pra ela. A multidão era tão grande que não conseguia nem ver sua família.
No ano seguinte, no dia de sua morte, a globo fez um especial. Em algum lugar ele pensou o porquê de tudo aquilo.
Ele não era de gostar dessas homenagens tradicionais, de amigos e até pessoas que não gostavam dele quando vivo puxando o saco.
Dez anos e nove especiais depois, a globo fez um mega especial, com toda sua banda presente e astros medíocres da música nacional estragando sua músicas.
De algum lugar, ele olhava feio e pensava:
Meu deus, que grande idiotice.
Vão pensar na alta do dólar e me esqueçam, por favor.




-Nossa, cara, ele é incrível, as idéias dele são demais.
-É, eu sei. Ele até disse uma vez que não gosta de ser seguido pelas pessoas, que não é um guru.
-Não é o máximo, isso?
-Com certeza, eu até comecei a pensar assim depois disso. Ele é o meu ídolo.

3 comentários:

Carina Gabriele. disse...

heuhauheua
Adorei!
Parabéns, Fernando. Vc conseguiu mostrar através desse texto o quanto a fama pode ser prejudicial. Agradar a terceiros, muitas vezes, não significa agradar a nós mesmos.

E nossa, vc achou meu texto tão bom assim? Achei ele razoável, bem razoável. heuheuhe Mas brigada pelos elogios. ;) E nem precisa sentir raiva. Seus textos são sempre incríveis!

Beijo.

Lucas Ferdinandi disse...

Podre esse, me decepcionou.

Orodreth Tinúviel disse...

Gostei do itálico, ficou bem característico.