domingo, 30 de março de 2008

-Mas e se a sua mãe aparecesse aqui agora, imagina?
-Seria engraçado...
-Eu juro que não te entendo...
-Eu também não.



Uma conversa, há algum tempo atrás, me fez começar a pensar.
Conversávamos sobre pessimismo, otimismo e realismo.
Comecei a me perguntar:
Seria eu um otimista ou pessimista.
Percebi que não faço parte de nenhum desses grandes grupos.
Como acontece com freqüência, que sou uma exceção.
Provavelmente o pessimista mais otimista do mundo, ou vice-versa.
Tanto faz.
Sempre tive uma tendência a observar o lado ruim das coisas, a ver defeitos em tudo, a esperar o pior das situações.
Sempre pensei na Lei de Murphy como o que rege o universo.
Mas não olho o lado ruim das coisas como um velho rabugento.
Me divirto com essas situações.
Sou o primeiro a rir quando tropeço ou derrubo algo, um dia em que tudo dá errado acaba se tornando cômico para mim.
Sou o tipo de pessoa que, ao ficar paralítica, olha para os próprios tênis e começa a rir, pensando em quanto tempo irão durar agora.
Contanto que consiga divertir alguém com a história, um pequeno desastre do cotidiano não me afeta.
Observar a ironia das cenas do cotidiano também me diverte.
A falsidade das pessoas, os detalhes que só eu percebo, tudo isso me faz rir com freqüência.
Tiradas sarcásticas e alguma dose de humor negro, comentários maldosos sobre as pessoas...
Por mais que isso tudo pareça reprovável, me diverte.
Divertir-me com o ridículo da vida é, talvez, a única defesa que tenho...

Vai dar errado, eu sei...
Mas e daí?
Um pequeno desastre é sempre tão engraçado.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Era mais uma daquelas noites de garoa e um pouco de neblina, daquelas nas quais o asfalto reflete a luz dos postes e ninguém está nas ruas.
Era o que ele observava pela janela.
Deu um pequeno suspiro, amassou o cigarro no cinzeiro e andou vagarosamente em direção a seu quarto, cantarolando uma velha canção com uma melodia lenta e triste.
Abriu o armário, procurando por algum livro, algo que o distraísse...
Encontrou, jogada em um canto e coberta de poeira, uma velha caixa de papelão.
Não a via há tanto tempo...
Estava carregada de tantas lembranças boas e frustrantes, tantos planos que não haviam se concretizado, tantas alegrias inesperadas, surpresas, festas e amizade, era uma caixa tão repleta de sua própria história que o assustava.

Abriu a caixa e pegou a primeira das fotos.
Um grande grupo de pessoas, em uma daquelas festas.
Estranho...
Havia perdido o contato com quase todos eles...
E, pensando bem, isso não fazia diferença alguma.
Tinha notícias vagas de uns ou outros, um havia se tornado médico, outro, biólogo, havia também o que havia sido preso depois de matar um cara.
Parecia tão feliz naquela foto...

Pegou a segunda foto.
Um pequeno grupo de amigos, reunido em uma varanda.
Os melhores.
Eram imortais.
Olhou para os rostos de cada um.
Estavam tão felizes...
Faziam planos.
Também havia perdido o contato com eles.
A distância, o tempo, a vida os havia separado.
Um continuava naquela cidadezinha.
Tinha uma esposa linda, seu filho mais velho provavelmente tinha dezesseis anos, hoje em dia.
Estranho pensar nele como mais um cidadão normal...
O outro tinha tido uma idéia genial, e apostado tudo nela.
Tinha uma mansão, cinco carros, todas as mulheres falsas e bajuladores do mundo.
E, não podemos esquecer, uma frustração enorme.
Estranho pensar nele frustrado, depois de conseguir tudo com o que sonhara tanto...
Olhou longamente para o rosto do terceiro.
O mais promissor de todos, talvez.
Era o melhor deles.
E ainda seria, se seu carro não tivesse ido de encontro àquela árvore.
Olhava distraído para o nada na foto, rindo da piada de alguém. E tinha saído com aqueles olhos vermelhos e brilhantes.
Parecia tão feliz naquela foto...

Ele ia olhando, foto por foto.
A cada registro de alegria uma certeza estranha ia se formando em sua cabeça.
Fotos de uma praia, um pub, um pequeno estúdio, várias casas, incluindo a sua própria.
Restava no fundo da caixa um monte de fotos preso por um elástico.
Ele sabia exatamente que fotos eram, ansiava por elas, assim como as temia, desde o momento no qual abriu aquela caixa.
Os retratos de um tempo incrivelmente feliz.
Pegou a primeira delas, a mais antiga.
Ela o abraçava, daquele jeito espontâneo que só ela tinha.
Seus rostos estavam encostados, e eles sorriam.
Fazia tanto tempo...
Olhou para aqueles olhos que costumavam olhá-lo daquele jeito incrível.
Para aquela boca que o beijava, e seu cabelo.
Imediatamente uma imagem se formou em sua cabeça.
Pés ligeiramente para dentro, pernas bonitas, um sorriso estranho, olhos encantadores, um jeito de falar bastante próprio, uma voz bonita.
Uma cintura perfeita, pelo menos para ele, e uma ligeira falta de auto-estima, que ele adorava.
Olhou todas as outras fotos.
Eles em casas de amigos, festas, praia, no casamento de um amigo, e no deles próprios.
Olhou bem para eles...
Que dia incrível.
Tudo parecia possível.
Mesmo que não fosse.
A sua casa, seu cachorro.
Sorrisos.
Pareciam tão felizes.

Aquela certeza estranha...
De que sua estava passando sem ele.

Era um insulto a todas aquelas lembranças que seu presente fosse pior do que elas.
Decidiu reunir todas aquelas pessoas que ele mesmo havia tirado de sua vida, aos poucos.
Aqueles velhos amigos ficaram surpreendentemente felizes com aquela ligação.
Depois de tantos anos, aquelas pessoas estariam reunidas novamente, apesar de que uma delas nunca estaria lá...
Mas não havia tempo para pensar nisso.
Havia mais uma ligação que devia fazer...
E essa não podia esperar.
Era mais uma daquelas noites de garoa e um pouco de neblina, daquelas nas quais o asfalto reflete a luz dos postes e ninguém está nas ruas.
Era o que ele observava pela janela.
Deu um pequeno suspiro, amassou o cigarro no cinzeiro e andou vagarosamente em direção a seu quarto, cantarolando uma velha canção com uma melodia lenta e triste.
Abriu o armário, procurando por algum livro, algo que o distraísse...
Encontrou, jogada em um canto e coberta de poeira, uma velha caixa de papelão.
Não a via há tanto tempo...
Estava carregada de tantas lembranças boas e frustrantes, tantos planos que não haviam se concretizado, tantas alegrias inesperadas, surpresas, festas e amizade, era uma caixa tão repleta de sua própria história que o assustava.

Abriu a caixa e pegou a primeira das fotos.
Um grande grupo de pessoas, em uma daquelas festas.
Estranho...
Havia perdido o contato com quase todos eles...
E, pensando bem, isso não fazia diferença alguma.
Tinha notícias vagas de uns ou outros, um havia se tornado médico, outro, biólogo, havia também o que havia sido preso depois de matar um cara.
Parecia tão feliz naquela foto...

Pegou a segunda foto.
Um pequeno grupo de amigos, reunido em uma varanda.
Os melhores.
Eram imortais.
Olhou para os rostos de cada um.
Estavam tão felizes...
Faziam planos.
Também havia perdido o contato com eles.
A distância, o tempo, a vida os havia separado.
Um continuava naquela cidadezinha.
Tinha uma esposa linda, seu filho mais velho provavelmente tinha dezesseis anos, hoje em dia.
Estranho pensar nele como mais um cidadão normal...
O outro tinha tido uma idéia genial, e apostado tudo nela.
Tinha uma mansão, cinco carros, todas as mulheres falsas e bajuladores do mundo.
E, não podemos esquecer, uma frustração enorme.
Estranho pensar nele frustrado, depois de conseguir tudo com o que sonhara tanto...
Olhou longamente para o rosto do terceiro.
O mais promissor de todos, talvez.
Era o melhor deles.
E ainda seria, se seu carro não tivesse ido de encontro àquela árvore.
Olhava distraído para o nada na foto, rindo da piada de alguém. E tinha saído com aqueles olhos vermelhos e brilhantes.
Parecia tão feliz naquela foto...

Ele ia olhando, foto por foto.
A cada registro de alegria uma certeza estranha ia se formando em sua cabeça.
Fotos de uma praia, um pub, um pequeno estúdio, várias casas, incluindo a sua própria.
Restava no fundo da caixa um monte de fotos preso por um elástico.
Ele sabia exatamente que fotos eram, ansiava por elas, assim como as temia, desde o momento no qual abriu aquela caixa.
Os retratos de um tempo incrivelmente feliz.
Pegou a primeira delas, a mais antiga.
Ela o abraçava, daquele jeito espontâneo que só ela tinha.
Seus rostos estavam encostados, e eles sorriam.
Fazia tanto tempo...
Olhou para aqueles olhos que costumavam olhá-lo daquele jeito incrível.
Para aquela boca que o beijava, e seu cabelo.
Imediatamente uma imagem se formou em sua cabeça.
Pés ligeiramente para dentro, pernas bonitas, um sorriso estranho, olhos encantadores, um jeito de falar bastante próprio, uma voz bonita.
Uma cintura perfeita, pelo menos para ele, e uma ligeira falta de auto-estima, que ele adorava.
Olhou todas as outras fotos.
Eles em casas de amigos, festas, praia, no casamento de um amigo, e no deles próprios.
Olhou bem para eles...
Que dia incrível.
Tudo parecia possível.
Mesmo que não fosse.
A sua casa, seu cachorro.
Sorrisos.
Pareciam tão felizes.

Aquela certeza estranha...
De que sua estava passando sem ele.

Era um insulto a todas aquelas lembranças que seu presente fosse pior do que elas.
Decidiu reunir todas aquelas pessoas que ele mesmo havia tirado de sua vida, aos poucos.
Aqueles velhos amigos ficaram surpreendentemente felizes com aquela ligação.
Depois de tantos anos, aquelas pessoas estariam reunidas novamente, apesar de que uma delas nunca estaria lá...
Mas não havia tempo para pensar nisso.
Havia mais uma ligação que devia fazer...
E essa não podia esperar.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Ele estava pensando sobre essa coisa tão estranha chamada saudade.
Lembrava, como sempre, dela.
Era uma saudade cotidiana, de coisas pequenas.
Constantemente se perguntava se ela ainda lembrava dele ao ouvir aquela determinada música, se tinha lido alguma vez aquele livro do qual ele havia falado.
Se perguntava se ela ainda gostava de palmito, se ainda tinha aquele olhar, aquele jeito de apontar para as pessoas quando estas faziam uma piada e ela ria.
Se ainda tinha aquele mesmo riso.
Se já tinha terminado de assistir o filme que eles haviam parado no meio, se ainda dizia “orquídeas” daquele jeito que só ela sabia dizer e no qual só ele achava graça.
Se ainda tinha as mesmas expressões, fossem elas faciais ou de linguagem.
Se ainda começava as frases com “pensa numa menina que...”.
Se perguntava se ela ainda tinha o hábito irritante de deixar as roupas atrás da porta do banheiro, se ainda jogava truco e se suas mãos ainda se encaixavam em torno de sua cintura.
Se ela se lembrava da velha casa, do velho da rua sem saída.
Se ela ainda se lembrava de suas fugas, os lugares pelos quais haviam passado, as coisas que haviam dito.
Se ela ainda tinha aquele cd que ele havia gravado para ela, com uma dedicatória.
Se ela se lembrava de como aquele dia havia sido lindo.
Passava por sua cabeça se ela ainda importava, ou pelo menos se lembrava das coisas que haviam dito, das músicas que se haviam dedicado, da recíproca.
De como o cabelo dela sempre era levado pelo vento e atrapalhava seus beijos.
Daquele dia no cinema, de como haviam se conhecido ao acaso, se ela ainda pensava o mesmo sobre as pessoas e o mundo.

Pensava em como era aquele mundinho sem ele.

E quanto a ela...
Se perguntava se ele ainda tinha uma piada para tudo, se ainda gritaria que a amava no meio da rua, sem se importar com as pessoas ao redor.
Se perguntava se era só para ela que ele havia dedicado aquela música, quem era aquela garota ao lado dele, naquele dia.
Se aquela banda que ele havia começado a formar estava dando certo.
Se ele ainda se reunia uma vez por semana com seus amigos, se seu futebol ainda era horrível e se ainda lia muito.
Havia adorado o livro do qual ele falara tanto.
Também se perguntava se, com quem quer que ele estivesse, se ele a segurava pela cintura ao andar pelas ruas, se parava na esquina e a observava ir embora, se ainda ria sem motivo.
Se ainda era sarcástico e resmungão, se ainda escutava aquelas músicas do cd que havia gravado para ela.

Pensava em como era aquele mundinho sem ela.

E continuavam, apesar de tudo, distantes.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Me lembro da peimeira vez qeu entrei naquela casa.
Aquela casa estranha, peculiar, cheia de objetos estranhos.
Uma estátua budista, objetos egípcios, um quadro contendo um pi.
E aquelas pessoas incríveis.
Uma segunda família, para mim.
Em todos os sábados.
Quando todos se reuniam para um filme e uma pizza, nos dias de simples falta do que fazer, sempre havia um lugar para ir, no qual me sentia bem, es isso era reconfortante.
Ainda é.
São as pessoas a quem recorreria se minha casa pegasse fogo.
E que eu admiro, imensamente.

3,14.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Hoje passei por um lugar incrível.
Um lugar memorável, repleto de boas lembranças.
Estranho...
Para as pessoas em torno de mim, parecia apenas um pedaço de grama.
Era apenas um pedaço de grama para eles.
Eu sou uma das únicas duas pessoas no mundo que têm noção do significado daquele lugar.
Sou também uma das únicas duas pessoas que têm uma noção completa do significado da “foto beleza americana”, e das circunstâncias incríveis que a geraram.
Sei o que significa aquela casa velha, aquele velho cão, aquela escada.
Mas sou um dos poucos.
E, para mim, esse tipo de situação é o que há de mais particular nas relações entre as pessoas.
Aquelas histórias que só as pessoas de um determinado grupo sabem, aquelas expressões que só eles usam, aquelas piadas internas.
Aqueles comentários simples, que passam despercebidos pelas pessoas me geral, mas fazem uma pessoa entre todas gargalhar, pois só ela tem condições de saber o que significa.
Guardar, junto com alguém, um segredo, e dar pequenos sinais para as pessoas em volta, pequenas pistas que nunca serão capazes de seguir.
Ter, entre seus amigos, um simples gesto, um código, um levantar de sobrancelhas que os faça entender o que não se pode falar no momento.
Ter um apelido estúpido, por causa de um acontecimento de três anos atrás, que só três pessoas sabem o que significa.
Afinal, o que seria de um amor ou uma amizade sem isso?
Mais um em uma lista, da qual não se pode diferenciar uns dos outros.
Seriam todos iguais, afinal.

And I want something good to die for...
Do make It beautiful to live.
(Queens Of The Stone Age)


Ultimamente, tenho sentido falta de esperar ansiosamente por alguma coisa.
Sentir aquele frio na barriga, viver aquela expectativa agradável.
Passar o dia, a semana na expectativa de algo.
Ter a consciência de que o amanhã será melhor que o hoje.
É extremamente desagradável acordar de manhã sem grandes expectativas, sem algo que o sustente pela semana, um oásis, uma luz no fim do túnel, um porto seguro.
Uma pessoa, um evento, o presente mais fútil.
Qualquer coisa que mate essa monotonia.
Um amor, um desafio, uma novidade.
Conhecer pessoas novas.
Qualquer coisa.
Qualquer coisa que acabe com esses dias vagamente agradáveis, nem bons nem ruins, médios.
Sem nada de notável que me faça lembrá-los daqui a quinze anos.
A rotina mata aos poucos.
Por mais contraditório que pareça, todos precisam fazer alguma loucura, de tempos em tempos para conseguir manter a própria sanidade.

E o prazo de validade da minha última já está acabando.

Preciso de novas loucuras, novas situações inusitadas e satisfatórias.
Preciso fazer uma loucura, gritar que amo alguém, pular de pára-quedas, viajar para a Tailândia.
Preciso pular vestido em uma piscina e me cercar de pessoas que gosto, ligar só para ouvir a voz daquela pessoa no telefone, tocar uma campainha e correr.
Acho que eu preciso parar um pouco de pensar e viver um pouco mais.

Só isso.