quarta-feira, 12 de março de 2008

Ele estava pensando sobre essa coisa tão estranha chamada saudade.
Lembrava, como sempre, dela.
Era uma saudade cotidiana, de coisas pequenas.
Constantemente se perguntava se ela ainda lembrava dele ao ouvir aquela determinada música, se tinha lido alguma vez aquele livro do qual ele havia falado.
Se perguntava se ela ainda gostava de palmito, se ainda tinha aquele olhar, aquele jeito de apontar para as pessoas quando estas faziam uma piada e ela ria.
Se ainda tinha aquele mesmo riso.
Se já tinha terminado de assistir o filme que eles haviam parado no meio, se ainda dizia “orquídeas” daquele jeito que só ela sabia dizer e no qual só ele achava graça.
Se ainda tinha as mesmas expressões, fossem elas faciais ou de linguagem.
Se ainda começava as frases com “pensa numa menina que...”.
Se perguntava se ela ainda tinha o hábito irritante de deixar as roupas atrás da porta do banheiro, se ainda jogava truco e se suas mãos ainda se encaixavam em torno de sua cintura.
Se ela se lembrava da velha casa, do velho da rua sem saída.
Se ela ainda se lembrava de suas fugas, os lugares pelos quais haviam passado, as coisas que haviam dito.
Se ela ainda tinha aquele cd que ele havia gravado para ela, com uma dedicatória.
Se ela se lembrava de como aquele dia havia sido lindo.
Passava por sua cabeça se ela ainda importava, ou pelo menos se lembrava das coisas que haviam dito, das músicas que se haviam dedicado, da recíproca.
De como o cabelo dela sempre era levado pelo vento e atrapalhava seus beijos.
Daquele dia no cinema, de como haviam se conhecido ao acaso, se ela ainda pensava o mesmo sobre as pessoas e o mundo.

Pensava em como era aquele mundinho sem ele.

E quanto a ela...
Se perguntava se ele ainda tinha uma piada para tudo, se ainda gritaria que a amava no meio da rua, sem se importar com as pessoas ao redor.
Se perguntava se era só para ela que ele havia dedicado aquela música, quem era aquela garota ao lado dele, naquele dia.
Se aquela banda que ele havia começado a formar estava dando certo.
Se ele ainda se reunia uma vez por semana com seus amigos, se seu futebol ainda era horrível e se ainda lia muito.
Havia adorado o livro do qual ele falara tanto.
Também se perguntava se, com quem quer que ele estivesse, se ele a segurava pela cintura ao andar pelas ruas, se parava na esquina e a observava ir embora, se ainda ria sem motivo.
Se ainda era sarcástico e resmungão, se ainda escutava aquelas músicas do cd que havia gravado para ela.

Pensava em como era aquele mundinho sem ela.

E continuavam, apesar de tudo, distantes.

Um comentário:

carinagabriele disse...

Wow!
Uma declaração explícita de saudades. heuhaue
:*