quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

E acaba mais um ciclo, mais um ano, e fica aquele clima saudoso, de olhar pra trás e ver o que foi o ano que passou.
E imaginar o que está por vir.
Talvez tudo dê certo, talvez tudo dê errado, a única certeza que tenho é que nada vai sair do jeito que eu planejei.
Seja pra bem ou pra mal.
Mas, em geral, gosto de acreditar que tudo vai dar certo.

Don't worry,
About a thing,
'Cause every little thing,
Is gonna be alright.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Tem uma casa na minha cidade que, sempre que possível, desvio do meu caminho para ver.
Não é uma casa muito bonita ou rica, aliás, muito pelo contrário, é feia e decadente, e tem apenas dois cômodos. Sua porta é riscada a chave e tem pixações com o nome do Nirvana em suas paredes.
Não é apenas pelas boas lembranças que tenho de sentar lá na frente que gosto do lugar, é por algo bem mais esranho.
Eu não gosto dauqela casa por ter agarrado uma garota ali na frente, eu agarrei a garota lá na frente por gostar da casa. O que me atraiu na casa é o seu ar decadente, as janelas cheias de táboas pregadas.
E eu sou assim com muitas coisas.
Eu tenho uma atração pelo baixo, pelo decadente, que vai acabar me destruindo, um dia.
Pelos viciados, pelas pessoas que vagam pelo mundo derrotadas, pelas pessoas carentes de atenção, os isolados e os traumatizados.
Situações esranhas e complicadas me divertem.
Por mais que tudo esteja ruim, ainda há aquele lado para olhar a situação toda e rir, meio de lado, meio ironicamente, para se divertir com o fundo de tudo.
A decadência tem algo de belo.
E mesmo quando tudo está dando errado, há algo de cômico, ou tragicômico, melhor dizendo.
Então, vou ouvir um John Frusicante e pensar na vida.
É estranha, e muitas vezes as coisas não acontecem como gostaríamos, mas, porra, vale a pena, e é tudo que eu tenho.
As coisas passam, sempre passam, só eu fico.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pequenos prazeres simples.

Baseado numa crônica do Paulo Mendes Campos.


Ler crônicas; cheiro de livro novo, cheiro de grama recém-cortada, cheiro da lasanha que tá saido do forno; Ouvir Stairway To Heaven às 3 da manhã, numa quarta-feira de verão, relaxado e olhando pro céu; Relaxar; A palavra utensílio; Piadas internas; Guitarra elétrica, piano, baixo, bateria; Bateria tocada de um modo simples, viradas que usam muito a caixa; Olhares; Mulheres bonitas; Olhares que vêm de mulheres bonitas; Quando uma desconhecida te dá moral; Um maluco no pedaço; Jeans; All-Star; Preto e branco; De volta pro futuro; Futebol bem jogado, dribles do garrincha, gol do zico; Michael Jordan jogando basquete; Qualquer cosia feita com vontade e paixão; Arte; Seios; Aquela voltinha que algumas mulheres têm na cintura; Mulheres que sabem se vestir; Loiras de olhos azuis; Meu mp4; A palavra bansa; Times de futebol da áfrica se enfrentando, mostrando o futebol com paixão qeu o Brasil já teve; O velho estúdio precário da banda; A palavra precário, assim como a palavra escasso; Gambiarras; Usar a chave de fenda; Ver que aquela pessoa com quem se quer falar está online; Mesagem de celular, toquinhos; Perceber que um amigo se parece com um personagem ou celebridade, e as pessoas concordarem com você; Ser elogiado; Ficra conversando até, pelo menos, as três da manhã; Faz parte do meu show, do Cazuza; AC/DC; Aquela bandeira do AC/DC que a torcida do grêmio levava pros estádios; Tirar o primeiro Slap; A primeira namorada; Os peitos da primeira namorada; Compreensão; Vodka; Coca-cola de vidro em dia de verão; Pais que trabalham e deixam a casa livre; Sentar na calçada; Mandar a moral e os bons costumes para a puta que o pariu, de vez em quando; Final da libertadores; Fazer uma piada boa; A estátua do cachorro triste na casa do Peninha; Humor negro; Monty Python; Não assistir Zorra Total; Ver alguém que não gosto se fuder; Ver alguém que eu gosto feliz; Batatas do McDonalds, pizza, ovomaltine; Carros antigos, coisas antigas em geral; LPs; Encontrar um amigo depois de muito tempo e ver que ele continua a mesma merda; Ter uma banda; Ensaiar com sua banda; Um palco; Se imaginar em turnê; Solar Free Bird em uma guitarra imaginária; A música do poderoso chefão; De Volta Pro Futuro; Descobrir Million Dollar Reload e sentir esperança; Sweet Child 'O Mine; O Baixo e a bateria de Rocket Queen; Ouvir uma música desconhecida qeu eu gosto na trilha sonora de um filme; Nirvana; Shows; Budismo; Mulher que cheira bem; Apertar campainha e correr; Matar aula; Descobrir que acordou atrasado para ir pro colégio; Fazer esquemas de cola; Excentricidade; Histórias de bêbados; Ter a coragem de tentar; A palavra "guts"; Amigos reunidos; Coisas de nerd; Músicas que lembram a infância; Dragon Ball Z; Perceber que aidna lembra os nomes dos Pokémons; Beijar sua garota em público; Fazer coisas em locais inoportunos; Fazer loucuras no cinema; Planos; Começo de ano; O começo do inverno; Lareira; Simplicidade; A introdução de Smoke On The Water; Frases do Lemmy Kilmister; O lobo da estepe; Relembrar situações engraçadas, principalmente quando envolvem a pessoa com quem se está falando; Paredes com pixações do Nirvana; Ouvir Bob Marley na praia; Frases e citações; Chocar as pessoas com uma piada má; Havaiana branco de tiras azuis; Amarula; Pastel de queijo; Pão de queijo com café; X-Frango; Fender precisio branco do escudo preto; the Legend Of Zelda e toda sua trilha sonora; Super Nintendo; Back In Black; Primos reunidos; Waccawacca; Gírias do baratão; Piscina; Mulheres bonitas no clube; Olhar fotos antigas dos meus pais; Comprar cds; ter o próprio dinheiro; Viver sozinho.

E, com certa reverência, um dos melhores:
Fazer listas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

E olhou para o horizonte, e aquele campo verde não acabava nunca.
Havia, no horizonte, uma árvore, extremamente distante.
Percebeu que tudo que queria na vida era andar até lá subir nela.
E, sem problema algum, outro compromisso ou alguém para impedí-lo, simplesmnemte seguiu sua vontade e foi até lá.
O vento bateu em seu rosto e mexeu seus cabelos. Ele sorriu.
Estava fresco e delicioso.
Foi andando, sentindo o calor do sol, e se sentindo bem.
O vento continuava.
Ele era livre.
Totalmente.

sábado, 15 de novembro de 2008

A la Cobain.

Ah, é aquele delírio adolescente clássico, que sempre passava pela sua cabeça.
Aquilo de ter seu próprio ônibus, com os instrumentos todos no bagageiro.
Ok, o violão está lá em cima, com a banda, pois nunca se sabe quando aquele clássico pode sair.
Indo pra um show, com pessoas interessadas em pagar para ouvir o que tinham a dizer, loucas por seu som, por seus solos e suas letras.
Mulheres, meu rapaz, mulheres.
Aquilo tudo tinha surgido como um turbilhão em sua vida.
Em um dia estavam lá tocando músicas alheias.
De repente, músicas começam a sair, que nem achavam que fossem tão boas assim.
As pessoas simplesmente começaram a gostar, e a aparecer.
Começaram a ser convidados.
Um dia, surgiu um sujeito com um contrato de gravadora.
Logo, havia toda aquela vida de um rockstar, de chegar com sua roupa estranha e óculos escuros em um aeroporto qualquer, das mulheres, da puxação de saco.
Da admiração.
Haviam multidões e bons hotéis, mas faltava alguma coisa.
Não era tão bom quanto quando se hospedavam em bibocas para tocar para cem pessoas.
Viu que a platéia estava cheia daquelas pessoas qeu estava justamente tentando evitar, quando montou sua banda, justo as pessoas que criticava, que desprezava.
Sim, elas eram boa parte de seu sustento, e não havia nada que pudesse fazer a respeito.
À noite, havia sim bons shows, aqueles qeu lhe davam satisfação e alegria, mas, em boa parte das vezes, não queria estar lá.
Mas bem, havia uma turnê, contratos e dinheiro
Havia de tudo, ali, no meio, a não ser pelo velho espírito, pela espontaneidade.
Olhava sua banda, e via um bando de idiotas deslumbrados pelo sucesso, que haviam se esquecido de tudo pelo que haviam passado.
As idéias que tinham antes, trocaram por belos carros, casas, modelos, Jack Daniel's e heroína.
Não se reuniam mais na casa um do outro para jogar conversa fora, ou falar dos novos cds que andavam ouvindo, não faziam um churrasco.
Quando um se casou, para se separar logo em seguida, alguns certamente só foram porque haveriam fotógrafos, montes deles, sem falar da bebida.
Tudo que ele tinha sonhado estava se desmanchando à sua volta.
O sucesso que havia buscado tanto não era o que esperava, não podia ir à padaria em paz, queria parar tudo aquilo. Puxar a cordinha e descer no próximo ponto.
Não parava com aquilo tudo porque achava que ainda havia, em algum lugar, gente que fazia tudo aquilo valer a pena, garotos como eles eram, no começo, garotas como as que conheciam, no começo, gente de verdade. E também, tinha que ser franco consigo mesmo, o dinheiro estava caindo muito bem. Não podia parar tudo aquilo, naquela hora. Pessoas contavam com sua presença, com sua voz e sua Les Paul.
Quando não estava no palco, queria estar lá mais que qualquer coisa. Quando estava, queria estar em qualquer outro lugar.
Porque toda aquela atenção, porque tudo aquilo?
Conehcia muitas bandas por aí bem melhores que a sua, conhecia pessoas que mereciam bem mais. Não era perfeito, mas era idolizado. Não era ou queria ser um guru, mas estava sendo seguido.
Deu no plantão da globo, interrompendo a novela das oito. O carro de um rockstar tinha dado de frente com um caminhão. Suspeita-se que estivesse bêbado. Era ele.
Foi levado pro hospital, operado, mas não adiantou nada.
No enterro, montes de pessoas choravam e carregavam velas. Em algum lugar, ele se perguntava o porque daquilo tudo, aquelas pessoas não o conheciam, ele não deveria ser nada pra ela. A multidão era tão grande que não conseguia nem ver sua família.
No ano seguinte, no dia de sua morte, a globo fez um especial. Em algum lugar ele pensou o porquê de tudo aquilo.
Ele não era de gostar dessas homenagens tradicionais, de amigos e até pessoas que não gostavam dele quando vivo puxando o saco.
Dez anos e nove especiais depois, a globo fez um mega especial, com toda sua banda presente e astros medíocres da música nacional estragando sua músicas.
De algum lugar, ele olhava feio e pensava:
Meu deus, que grande idiotice.
Vão pensar na alta do dólar e me esqueçam, por favor.




-Nossa, cara, ele é incrível, as idéias dele são demais.
-É, eu sei. Ele até disse uma vez que não gosta de ser seguido pelas pessoas, que não é um guru.
-Não é o máximo, isso?
-Com certeza, eu até comecei a pensar assim depois disso. Ele é o meu ídolo.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Aquela mesma sensação familiar de que falta algo.
É como se faltasse um pouco de tempero na vida, o supérfluo que nos faz felizes.
Sabe como é...
A cereja no topo do bolo, ou algo assim.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aquela mesma e maldita rotina

.



E ando precisando de novos ambientes, de coisas novas.
Novas pessoas e situações.
Quero isso e, ao mesmo tempo, evito.
Mudar cansa, reverte conceitos.
Mas há as boas horas em que quero sair dessa redoma, desse círculo fechado de pessoas.
Parar, um pouco, de falar sobre as mesmas coisas, ir sempre aos mesmos lugares, ver os mesmos rostos.
Viver desse mesmo jeito de sempre.
Dessa segunda, até a próxima, quando tudo começa de novo.
Fazer os dias pararem de ser um ciclo,
Deixar a vida mais assimétrica.

Enfim, ter algo novo no que pensar, ao acordar de manhã.
Esperar ansiosamente por algo ou alguém,
Mesmo que seja algo pequeno,
Mal poder esperar que chegue.
Botar um ponto final nessa história de rotina, de acordar 6 e meia pra ir no colégio, ter horas de diversão encaixadas nas duas horas entre uma atividade e outra.
Viver espontaneamente e fazer algo que me assuste.


E não vou perder a chance de citar a mesma música de sempre.
Isso também já é uma rotina.
Mas, fazer o que...
Ela normalemte exemplifica bem.










I want something good to die for
To make it beautiful to live
I want a new mistake
Loose is more than hesitate
Do you believe it in your head?

(Go With The Flow - Queens Of The Stone Age)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Eu sempre acreditei no poder da música de influenciar as pessoas.
Não acredito que músicas possam mudar o mundo, ou qeu um bom show de rock 'n roll possa fazer a diferença ou algo assim.
Se Hitler ouvisse Imagine, não mudaria absolutamente nada, mas acredito no poder dela de mudar individualmente.
Acredito no poder de fazer com que as pessoas sintam algo.
Conheço várias músicas que mudam meu humor.
Tears in Heaven, do Eric Clapton, é um exemplo.
Toda vez que ouço essa música, lembro do filho dele, que morreu.
pensa na tristeza e no amor de pai. E fatalmente, me emociono.
Dropkick murphys dá vontade de ficar bêbado.
Ac/dc de aprontar por aí, de ser um cafajeste daqueles.
Um bom blues para as horas de tristeza.
Músicas que lembram pessoas, lugares e épocas., Linger e Sweet Child 'O Mine.
Bad to The Bone e It's Reciprocal.
Baby, I'm Gonna Leave You.
Mas a música que mais me provoca emoções, que faz com que me sinta extraordinariamente bem, entre todas, é a melhor música já feita desde Mozart.
Stairway To Heaven.
Há uma versão ao vivo na qual Robert Plant começa dizendo "This is a song about hope".
É bem o sentimento que me desperta.
É algo como uma leveza, um sentimento de esperança.
Eu imagino quando essa música terminou de ser feita.
Todos os membros da banda devem ter ficado em silêncio, ouvido aquilo e pensado: Nós fizemos isso?
Dever ter sido como Michelangelo ao ver que não tinha mais em sua frente um bloco de mármore, mas Davi.
Não é uma música para ser ouvida a qualquer hora, para ficar de fundo enquanto se come ou algo assim.
É para os bons momentos, para o sol se pondo, para seu filho andando pela primeira vez, para sua primeira vez com a mulher que ama.

Para a grandiosidade.
Algo como a capela Cistina, saca?

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Já estou bem cansado de ter medo, de não poder usar meus fones na rua e de ter que desconfiar de pessoas que não me fizeram nada.
Cansado de ver grades, de dormir com a janela fechada e temer pelo meu celular.
Cadê a polícia, quando mais se precisa dela?
E cadê alguém pra ajudar aquele coitado, em todo o longo caminho que um desesperado percorre antes de assaltar alguém.
O que me assustou não foi saber que era um assalto.
Foi saber que ele tinha frio, fome, e estava com medo, inclusive de mim.
Vê-lo me pedindo por favor que não mandasse ninguém espancá-lo, tremendo.
É, no fim, fui assaltado de livre e espontânea vontade.

Satisfação garanida, ou pelo menos parte do seu dinheiro de volta.

domingo, 5 de outubro de 2008

As luzes, uma fina camada de fumaça.
O som e as pessoas, logo embaixo.
Aqueles forasteiros haviam encontrado seu lugar.
E muitas novas idéias se formaram, muitos planos se fizeram e muitas decisões tomadas, naquele dia.
E muita coisa continuou a ser exatamente como era antes.





Nice try, guy!
You had the guts!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ontem, andando em um ônibus, parei para olhar para uma garota de vestido.
Não que fosse um vestido extremamente curto e decotado, daqueles que te chamam a atenção para a garota, imediatamnete, para bem ou para mal.
Seja para rir do ridículo ou admirá-la.
Não, era um vestido nem muito curto, nem muito decotado, nem ao menos muito justo.
Daqueles que escondem bem mais do que mostram.
Na verdade, não escondem, deixam subentendido.
E o subentendido tem todo um encanto.
Dá abertura para a imaginação. Nos tempos em que vivemos, não há espaço para isso.
Eu imagino como deveria ser, para o homem medieval, sua primeira vez com sua esposa.
Ele não sabia como ela era, na verdade, por baixo das dezessete camadas de pano.
Priovavelmente era um momento de glória.
Por mais que um belo decote encante, o excesso deles tirou boa parte da graça.
A superexposição tira o encanto das coisas. Nos habituamos a elas.
O sujeito que vive em uma ilha paradisíaca não olha tudo com os mesmos olhos do turista.
Aquela bela paisagem é parte do seu cotidiano, é banal.
De vez em quando deve olhar em volta e pensar: Como eu tenho sorte!
Mas isso vai se tornando cada vez menos frequente, ao longo do tempo.
As coisas fáceis demais perdem a graça.
Tudo precisa ter mistério, surpresas, até causar um pouco de medo.
Aí reside a graça, a emoção da coisa toda.
Conseguir tudo de mão beijada faz a coisa em si perder o valor.
O que deu trabalho para conquistar é bem melhor.
Vi isso bem no estúdio da minha banda, para usar um exemplo sem nada a ver com o assunto.
Começou sem nada, e foi sendo construído aos poucos, passo a passo.
O amor que eu criei naquele lugar, em ter aquela banda que também surgiu do nada, sem recurso nenhum...
É indescritível.
É o meu lugar.
Se tivesse caído do céu, pronto, não teria o mesmo valor daquele de caixas de ovo coladas à mão, uma a uma.
Com as pessoas, pelo menos eu encaro da mesma forma.
Se quer saber, eu ainda lembro da garota do ônibus.
Se a amiga dela usava um decote grande, eu não sei.
Seria só mais uma a ser observada e esquecida.
Mas a do vestido...

sábado, 20 de setembro de 2008

Da série: Astrofísica numa hora dessas?

Esses dias mesmo.
Fui na banca comprar uma Superinteressante. Era um domingo de manhã, daqueles bem típicos e preguiçosos, nos quais tudo parece acontecer mais devagar.
Encontrei um sujeito que não via há um longo tempo. Ainda é um grande amigo, mas, Deus, há quanto tempo não falava com o cidadão...
Conversamos um pouco sobre comos os grupos acabam se separando.
Parei pra pensar um pouco sobre como a vida é feita de fases.
Ah, naquela época eu namorava com tal fulana, andava com aquela turma, naquela época tinha aquele determinado hábito.
Mudamos nosso modo de agir, mudamos nossa aparência.
Temos um duplo prazer. O primeiro é achar que estamos lindos e irresistíveis, com nossas belas roupas e nosso moderníssimo corte de cabelo, o segundo é olhar as mesmas fotos daqui a alguns anos e rir.
Como eu tinha coragen de sair na rua assim?
Nos lembramos de coisas simples, de matar uma aula na casa de alguém, uma piada interna.
Uma música ruim que traz boas lembranças, como alguém que gosto muito me disse hoje.
As coisas simplesmente vão passando.
Uma daqueles amigos está fazendo faculdade, um trabalha, um se mudou. Nada mais é do jeito que era. As pesosas se interessam por novas coisas, seguem novos caminhos, mudam sua cabeça e pronto.
Foi-se a mágica do momento, devagar e sutilmente, de modo a acabar nem fazendo tanta falta assim.
Um mês e uma situação totalmente nova.
O que já me pareceu imprescindível, hoje é desnecessário.
Aquela amizade que era quase irmandade, o amor da uma vida que durou alguns meses, tudo passou e eu fiquei.
Em boa companhia, normalmente.
Tenho uma sorte incrível com pessoas.
Por mais que elas passem, sempre estou cercado de pessoas incomuns.
É o que me consola.
Já me queixei muito do passado, já falei dele com saudade, tristeza e raiva.
Agora me sinto em paz comigo mesmo.
Esse ciclo que se inicia parece estar começando bem.
Parece que me resolvi comigo mesmo, pelo menos nessa semana.
Andando sozinho num lugar lotado, percebi que, por mais que tudo mude, sou muito apegado mesmo a mim. Amo meus gostos, minhas frases, meus livros e cds.
Amo minhas coisas e minhas opiniões, e minhas lembranças.
Por mais que os astrofísicos digam o contrário, o centro do universo sou eu.
Digo isso da maneira menos egocêntrica possível.
Sou o centro de um universo em constante mudança e expansão, e as mudanças estão vindo, novas cosias nunca antes vistas estão chegando.
Mas deixa pra lá.
A reflexão já chegou na astrofísica.
E está tarde.

Boa noite.
Àquela garota excêntrica, uma salva de palmas.
E um pouco de admiração contida.
Obrigado por ser você.
Me dá um pouco de esperança no mundo, pra falar a verdade.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um dos defeitos ou qualidades da vida é o fato de que, quando finalmente se chega ao final feliz, ele não é um final.
Aquela cena que pareceria tão bonita em um filme, com a câmera se afastando, é seguida, no dia seguinte, de discussões, um rompimento e um punhado de frustrações.
Os finais dos filmes só são bonitos porque os créditos aparecem na hora certa.
Romeu e Julieta são um símbolo de amor porque morreram cedo, e juntos.
Não se casaram, engordaram juntos, ou tiveram uma separação traumática e vergonhosa.
Morreram jovens e bonitos, acabaram na hora certa, sem que ele ficasse careca e ela roliça e irritada. Não tiveram tempo de provar ao outro que cometiam o pecado imperdoável de serem pessoas normais, que tinham sim, manias e defeitos, assim como o outro.
Não que tudo devesse simplesmente acabar, e concordo que se tudo fosse sempre da mesma maneira, a vida seria extremamente entediante. Não sei o que quero, exatamente. Mas a verdade é que sempre que algo parece bom demais para ser verdade, deixa de sê-lo logo. Alguém que muda de idéia, algo surpreendente que acontece e logo aquele mundinho maravilhoso vai por água abaixo, junto com seus planos.
Muitas vezes acaba sendo mais divertido fazer novos planos, se reinventar, pensar em coisas novas, assim como muitas vezes tudo muda para melhor, mas nada se mantém o mesmo.
Quando nos lembramos com saudade do passado, não significa necessariamente que a vida seja dura, ou tudo esteja, ruim, apenas não é mais feliz daquela mesma forma, não alcançamos a felicidade da mesma forma que antes, o que não tem nada a ver com sua intensidade.
Já houve tempos em que tive a vontade decadente de voltar ao passado e fazer tudo de novo, por mais que a felicidade estivesse bem debaixo do meu nariz.
Não que às vezes, antes de dormir, não bata aquela saudade de um dia específico, geralmente o mesmo, mas a vida anda muito boa, e os planos muito grandiosos para que eu me colocasse seis meses mais distante de sua realização, não me reúno debaixo de uma árvore para conversar com as mesmas pessoas, não mato mais aulas naquele mesmo lugar, não espero mais alguém na esquina de um colégio, mas faço muitas novas coisas que fariam meus olhos brilharem há um ano. Não tenho, em quase todos os aspectos, do que reclamar.
A vida é curta, afinal, e não se sairá vivo dela, então, porque você está perdendo seu tempo lendo um blog?
Saia por aí e faça o que quiser.
Sugiro começar chamando seus amigos para sua casa, comer alguma coisa, beber e se lembrar de coisas engraçadas e se sentir feliz por estar cercado pelas pessoas que te divertem.
Saia por aí, aperte campainhas e corra, dê o primeiro com alguém que o atrai, faça algo sem vergonha dos outros, mas de preferência que não vá contra o pudor público.
Viva!



-Quem é você?
-Eu sou você, daqui a alguns meses.
-E aí, fazendo o que de bom?
-Eu tenho uma banda, cara!
-Sério?
-Sério. E aproveite agora, você tem meses incríveis pela frente.
Terceira voz diz:
-Você também.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sempre que acontece alguma coisa impressionante ou interessante, enfin, algo que saia da mesmice em minha vida, fatalmente acabo na memsa situação.
Sentado em uma cadeira com algumas teclas na minha frente e o que seria o equivalente a uma folha em branco.
Geralmente significa uma fase de grande perturbação com algo ou uma idéia fixa, por a vida estar a mesma merda de sempre, por exemplo, mas também pode significar uma mudança que está por vir.
Como alguém que olha as nuvens e vê que uma tempestade está vindo.
Sempre que algo parece bom demais para ser verdade alguém muda de idéia ou alguma coisa acontece.
É impressionante.
Mas não se pode culpar quem mudou, mas também não se pode ficar feliz com isso.
Nada de indiretas, apenas desabafo.
No fim isso provavelmente acaba sendo necessário, para que ocorram mudanças.
Mas, sejamos francos...
Nem toda mudança é bem-vinda.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

... accidentally,
I charm you and tell you
Of the boys I hate, all the girls I hate
All the words I hate, all the clothes I hate
How I'll never be anything I hate
You smile, mention something that you like
Oh, how you'd have a happy life
If you did the things you like...



É um pouco desconfortável ser excêntrico. Embora o excêntrico não troque seu modo de viver e pensar por nada, seu modo de pensar acaba sendo um empecilho em sua vida em algum momento.
Juro que algumas vezes já quis ser um garoto normal.
Ter poucas preocupações além de achar uma garota bonita no fim de semana, que nunca mais visse, ter um bom celular e ter um carro popular rebaixado.
Confesso que sou tão arrogante que me acho melhor que as pessoas que tem esse tipo de vida.
Olho para elas com bastante desprezo e um pouco de inveja. Suas vidas são muito mais simples que a minha, e elas não se esforçam para complicá-las.
Para mim o normal não é o suficiente. As coisas precisam ter um algo a mais, que, de preferência, eu seja o único a perceber.
Não tenho o mínimo respeito tanto por homens que dizem que mulheres amam o dinheiro e os carros, assim como não respeito as mulheres que confirmam este estereótipo.
São bonitas e mais nada.
Uma garota não precisa ser apenas bonita, para valer o meu suor. Por aí já se mede o tamanho do meu ego. Ela precisa ter aquele “algo a mais”, aquela coisa de inexplicável, que atrai, mais interior que exterior, na verdade.Uma mania, uma paixão por uma banda específica, nada de tão específico. Todo o encanto se forma em detalhes.
Me sinto atraído, na verdade, por aquele universo em torno das pessoas, objetos, idéias.
Tudo o que se relaciona a elas, lugares, palavras, referências, aqueles detalhes que me fazem sentir importante por tê-los notado.
Cada pessoa carrega consigo um universo, e confesso que gostaria de fazer parte de alguns.
Ser parte daquele universo, como lembranças de infância, alguma praia que se foi nas férias ou a calça preferida.
Ser tão parte daquele universo como aquela música que lembra uma época especial, aquela frase lida há muito tempo e lembrada de vez em quando, como o quadro de flores da sala de estar.
Mas estaria mentindo se dissesse que a beleza não é importante. É o que atrai, primeiramente. É essencial e absolutamente necessária.
Não digo aquela beleza extraordinária, de tirar o fôlego, mas de uma beleza que atraia pelo conjunto e apaixone pelos detalhes.
Estou falando de um sorriso apaixonante que acompanhe um resto tão bom quanto.
E que esse sorriso seja acompanhado de opiniões e bom-gosto.
Uma bela garota excêntrica ,é disso que falo.
Uma garota levemente mal-humorada e irônica, mas fácil de deixar feliz.
Sexy e, de certo modo, tímida.
Culta, muito mulher, e ao mesmo tempo, muito menina.
E, acima de tudo, muito idealizada.
Enfim, todas as pessoas têm um ideal.
Ideais não servem para ser alcançados, porque provavelmente não serão, pelo menos em sua totalidade.
Servem para que se tente chegar o mais próximo possível deles.
Não há regras claras.
E, além de tudo, há sempre os noventa por cento de chance de mudar de idéia pelo caminho, ao ser surpreendido, ao dar de cara com o inesperado.
Afinal, se todas as coisas saíssem como imaginamos, e todos os planos dessem certo, qual seria a graça?

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ele olhava para ela, todas as manhãs.
Enquanto ainda dormia, no momento em que acordava, quando se espreguiçava e lhe dizia “bom dia!”.
Era extraordinariamente linda, quando se arrumava, mas, pela manhã, tinha todo um encanto.
Quase qualquer mulher é capaz de parecer bonita, quando está arrumada, mas poucas podiam se dar ao luxo de serem tão lindas no momento em que acordavam.
A observava com completa atenção, querendo absorver cada detalhe, cada poro, seu cabelo e as curvas de seu corpo, cobertas por uma calça desbotada e uma velha camiseta do Led Zeppelin.
Havia alguma coisa inexplicável nela, algo impossível de definir, mas ainda sim presente.
Algo que fazia com que cada célula de sua pele parecesse necessitar se encontrar com as dela.
Ela não acreditaria se ele lhe dissesse, mas a amava justamente nas horas em que ela se achava menos desejável.
Gostaria de lhe dizer que parecia mais sexy com aquela roupa velha, larga e desbotada do que com quando tentava ser.
Era linda quando estava brava, quando estava triste, acima de tudo.
Ele admirava-a pelos detalhes, os maravilhosos detalhes.
Aquela pequena cicatriz, o modo como andava, sua voz.
O conjunto de uma pessoa nos atrai, mas as pequenas coisas nos apaixonam.
Era mais um desses casos.
Mais um em 4 bilhões, mas, para ele, único.
E, de certo modo, ele estava certo.

sábado, 5 de julho de 2008

...então ele tomou outro bom gole de coragem e foi falar com ela.
Ainda era linda, como antes, embora mudada.
Ele queria, e ao mesmo tempo tinha medo de saber o quanto.
-Anda saindo muito?
-Com certeza. Sempre.
-E também. Minha vida anda muito divertida.
Mentira, da parte dele. Quase não saía, sua vida era um tédio.
Teria vergonha de narrar seu dia.
Mentira da parte dela. Quase não saía, sua vida era um tédio.
Teria vergonha de narrar seu dia.
Mas nenhum dos dois aceitaria deixar transparecer nada, pois não fazia idéia se o outro pensava a mesma coisa.
Nenhum admitiria a falta que o outro fazia, não dariam sinais de fraqueza.
A falta do outro podia ser forte, mas sem dúvida o orgulho era mais.
Ceder e ser o primeiro a dizer “oi”, à distancia, já era tremendamente difícil.
Para ambos.
-E então, ainda anda com aquele povo?
-Sim, a gente anda se divertindo muito. Sempre nos reunimos.
Traduzindo: Se reuniam para assistir filmes e falar coisas idiotas, nada assim tão legal.
-Ah, eu fui numa festa ontem!
Traduzindo: Uma tia fez aniversário e os primos se reuniram e falaram coisas idiotas, nada assim tão legal.
-Que legal!
Traduzindo: Nossa, ela tem uma bela vida social, bem diferente de mim. Que bosta!
-E então...
Devia perguntar se ele ainda tinha aquela foto?
Pensando bem, deixa pra lá...
-O que?
-Nada, esqueci o que eu ia dizer.
-Ah, sim.
Pergunto da foto?
Não, deixa que ele pergunte.
-Bom, vou indo, preciso encontrar uns amigos.
Não há encontro com amigos, e o que ele mais gostaria era continuar ali.
Mas é melhor assim.
-É, eu também. Tenho uma festa.
Ela também não tem festa alguma para ir.
-Então, até um dia desses.
-Até.
Vão se dar um beijo no rosto, para se despedir.
Nenhum dos dois toma a iniciativa, e, depois de um silêncio constrangedor, acenam um adeus e vão embora sem nem se tocarem.
Ela chega em casa, pensando que ele não quer nada com ela, realmente.
Sua vida parece estar tão divertida.
Liga a Tv, não está passando nada que ela goste.
Ela a desliga e vai dormir.
Mas só consegue pensar em que amigos seriam aqueles.
Achou muita intromissão perguntar.
Ele chega em casa.
Liga a Tv.
Que bom, está passando o programa do Jô.
Vê um artista que lhe é vagamente familiar.
O desgraçado começa a cantar uma canção sobre a solidão.
Ele diz um palavrão baixinho e desliga a Tv.
Vai se deitar, mas só consegue pensar em quem estava naquela festa.
Com certeza pessoas bem mais interessantes que ele.
Porque ela pensaria nele, afinal, se conhecia tantas pessoas e tinha tantas festas para ir?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ela era um punhado de fotos, ela era a literatura, ela era uma daquelas belas surpresas da sorte, uma amiga de uma amiga. Era parte de um maravilhoso jogo literário, de se revelar aos poucos, de dizer sobre si mesmo, texto a texto. Ela o conhecia melhor que muita gente que o cercava, pois era para ela, de um modo ou de outro, que contava seus segredos. Seus desabafos, seus pensamentos, colocados em algumas linhas, escritos, na verdade, apenas pelo fato de que ela iria ler. De fato, com algumas exceções, tudo aquilo era escrito em função dela.
Por mais que os textos falassem de outras pessoas, por mais que falassem de seus amigos ou sua ex-namorada, tudo aquilo era escrito, no fundo, para seu comentário a respeito, sua aprovação, para saber sua opinião.
Não precisava mais guardar tudo para si. Por pior que tivesse sido o dia, havia alguém, mesmo que estivesse a mil quilômetros de distância, que se importaria em ler o que ele pensava.
O angustiava a idéia de que talvez nunca a conhecesse, realmente, que talvez nunca sentisse seu cheiro ou ouvisse sua voz.
Como será que era sua voz? Será que ela era realmente do mesmo modo que a imaginava? E, quanto a ela...
Será que não se decepcionaria com ele, quando o conhecesse, em saber que ele era apenas mais um sujeito normal, sem grandes atrativos?
Como será que ela falava, será que dizia alguma palavra de um jeito peculiar, ou tinha algum gesto inesquecível?
Como poderia ele nunca vê-la, quando o queria tanto, apenas por causa daquela distância que era, ao mesmo tempo, tão pequena e tão incrivelmente longa?
Ela poderia ser sempre apenas uma foto, ele tinha medo de que, alguns anos depois, ela fosse uma frustração, a “garota que ele nunca conheceu”, e de imaginar de como o passado poderia ter sido, imaginar, sem ter ao menos uma idéia vaga do que acontecera a ela. Perder o contato, se lembrar dela dali a alguns anos, em uma roda de amigos, enquanto tomam uma cerveja e falam sobre a juventude, apenas como uma lembrança remota e não concretizada, daquela maravilhosa garota do Mato Grosso.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A minha vida é uma pequena fábrica de lembranças.
Assim como a vida de qualquer um.
É uma busca constante de ter lembranças melhores do que as anteriores.
Quando o seu presente é menos satisfatório que seu passado, você fica preso a ele.
Quando não há algo de bom o deixando feliz, ou a perspectiva de alguma coisa grandiosa, por menor que seja, o passado o chama.
Há algo de horrível no passado: O fato de que ele não volta, de que suas lembranças são apenas lembranças, que nada daquilo existe mais, por mais intensas que suas memórias sejam.
Parei no meio de um momento maravilhoso para pensar, uma vez. Percebi que dali a seis meses sentiria uma falta tremenda daqueles tempos. Foi um bocado desolador chegar à essa conclusão.
Era uma hora tão boa que eu sabia que me lembraria dela pelo resto da vida.
Passaria talvez cinqüenta anos me lembrando de algo que havia durado duas horas.
Pequenas coisas que, há alguns meses, talvez um ano atrás me pareciam corriqueiros agora me fazem falta, por serem maravilhosas, sim, mas principalmente por eu não estar agora me esforçando tanto quanto naquele tempo para aproveitar a vida.
Aqueles tempos foram melhores do que os que estou vivendo, logo, ainda tenho um pé neles.
É uma reação perfeitamente natural.
Tendemos a ficar no tempo que nos torna mais felizes.
A grande maioria das pessoas se prende a coisas que já passaram, ou então, a seus grandes planos de futuro que dificilmente acontecerão como planejaram.
Poucos sábios e afortunados sabem viver com intensidade o presente, o que há de concreto, aproveitam sua chance de fazer com que o dia de hoje, este exato momento seja, daqui a dez ou onze anos lembrado com um suspiro e uma frase como: “Olhando bem, como eu era feliz”.
Pensando bem, não conheço nenhuma pessoa que seja assim, e talvez nunca conheça. Eu certamente não sou uma dessas. Se não viver esperando ansiosamente pela próxima sexta-feira, viverei suspirando pela sexta-feira passada, mesmo sabendo que ela já se foi, não existe, que minha memória não é algo concreto.
Não há nada de particularmente interessante me esperando sexta que vem, ou pelo menos é o que parece. As melhores coisas da minha vida, talvez com exceção de uma, surgiram sem avisar ou bater na porta. Sem hora marcada ou planejamento, apenas foram acontecendo, e estou me lembrando delas nesse momento. Fazem um pouco de falta.
A verdade é que eu gosto demais de me lamentar e muito pouco de agir. É mais fácil reclamar que os tempos já não são como antes do que tentar viver o hoje da melhor forma possível. Viver é um pouco cansativo, na verdade. É mais fácil viver intensamente apenas uns dias a cada semestre e recordá-los no restante.
Aquela sensação de frio na barriga, ou ainda aquela sensação irreprimível de alegria não foram feitas para o dia-a-dia, ao que parece. Pertencem àqueles dias raros, aqueles para serem lembrados como sendo muito melhores do que realmente foram. Para serem lembrados com um céu muito azul, uma sensação estranha de leveza, um pouco de tristeza e um bom tanto de alegria.
Mas por que diabos eu estou aqui sentado, escrevendo sobre lembranças e passado quando poderia estar lá fora vivendo?
Me ensinaram a escrever, mas quanto a viver, acho que ainda faltam algumas lições importantes.

domingo, 11 de maio de 2008

Pretérito perfeito

...E então o príncipe encantado surge em seu cavalo branco, beijando a donzela e a levando em sua garupa.
E foram felizes para sempre...
Exceto quando a donzela estava com dor de cabeça, quando o príncipe broxou, quando perceberam que não se amavam mais e na separação dos bens, no divórcio.

Aprendemos a olhar as coisas como gostaríamos que fossem, e não como realmente são.
Temos memórias seletivas.
Não sei se falo apenas por mim, mas tenho uma tendência irritante de idealizar as pessoas, de ver nelas o que gostaria de ser, de me apaixonar não por uma garota, mas pela idéia dela, por aquele mundinho muito particular que a cerca.
Tenho uma tendência a me lembrar de épocas passadas como sendo perfeitas, apesar dos pequenos problemas, alguns dias parecem se cobrir de um véu de perfeição, o arroz que queimou, a unha encravada e a dor de cabeça vão para um ponto qualquer no limbo, são esquecidos.
Tenho um amigo que gosta muito de histórias dos tempos medievais, de honra e coragem.
Tempos de donzelas em perigo e homens honrados, que se arriscam pelo que acreditam.
Tempos que nem existiram de verdade, assim como algumas pessoas que já admirei.
Aquelas pessoas que admirava existiam apenas na minha cabeça.
Os indivíduos reais eram bem diferentes do que costumava pensar deles.
Quem espera a hora perfeita sempre acaba deixando as oportunidades passarem, o sujeito que busca a mulher perfeita não nota a garota que está à sua esquerda. Ela é incrível, ainda que tenha uma voz um pouco estranha.
Ninguém consegue viver sem um ideal, sem uma utopia, seja a paz mundial ou criar filhos perfeitos.
Deve-se tentar chegar o mais próximo possível do que se considera perfeito, mas com a consciência de que nada vai sair exatamente como o planejado.
São as irregularidades do caminho que fazem a vida interessante.
As pequenas alegrias inesperadas.
Imagine uma vida perfeita, onde tudo corre exatamente como planejado.
Seria ótimo.
Na primeira semana, talvez na segunda, mais ou menos até a quarta-feira.
Depois disso, apenas um tédio sem fim.
Não nascemos em um mundo perfeito, não nascemos para sermos perfeitos.
Nascemos para sermos nós mesmos.
Por mais terrível que pareça assumir os próprios defeitos, eles são parte de você.
Mais até que suas qualidades.
Esses você cultivou.
Agora, quem cultiva o próprio mal-humor?
Ele é simplesmente parte de você.
Não ser perfeito é delicioso.
A imperfeição é o que lhe permite dizer que é humano.
Homo sapiens, da ordem dos primatas, mamífero e pertencente ao reino animal.
Quanto a isso, não há como mudar.
O resto, com jeito, se resolve.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

About a Girl

Her hair reminds me
of a warm safe place
Where as a child I'd hide
And pray for the thunder
And the rain
To quietly pass me by.
(Sweet Child O’ Mine – Guns N’ Roses)


E ele a viu, logo quando entrou.
O rosto por trás do balcão, a voz por trás do telefone, a presença por trás daquela fotinha quadrada.
Seus amigos estavam ansiosos por se sentar logo, pela comida, tinham pressa.
Ele não.
Quanto mais tempo passassem lá, melhor.
Se a comida demorasse, pouco lhe importava.
Não era pela comida que ele estava lá.
Ele estava lá para vê-la, para falar com ela, para estar em um lugar que era a própria presença dela, cada canto, cada quadro, o próprio nome do lugar.
Não sabia porque aquela presença o atraía tanto.Sei lá, ela o lembrava de outras épocas.
Se imaginava em pé, ao lado dela, em uma calçada de uma cidade fria, esperando um grande show começar.
Pulando para espantar o frio, mas ansiosos pelo grande show que estava por vir, o tipo de coisa que não acontece mais hoje em dia, pelo menos não do jeito que ele queria.
Ele se imaginava com sua banda, pronto para fazer um show, e ela estaria lá, na platéia, assistindo a tudo.
Ele faria seu melhor show.
Ela lhe lembrava bom gosto, as mesmas ótimas conversas, Cindy Lauper, O Tempo e o Vento, literatura e Guns N’ Roses.
Na verdade, podia contar quantas vezes a havia visto pessoalmente, mas nunca poderia contar quantas vezes haviam conversado.
Nem se lembrava de quando a conheceu, de quando começaram a conversar, isso não importava muito.
Alguma coisa a ver com uma piscina, talvez.
Era com ela que ele havia conversado quando sua namorada havia terminado com ele, era para ela que ele contava as novidades de sua banda, as pequenas coisas engraçadas do dia-a-dia, mesmo que se falassem apenas uma vez por semana, pela internet.
Nem que fosse ao menos por fotos, ele a admirava, admirava aquela beleza excêntrica, diferente do normal, acima dele. Maçãs do rosto, um riso agradavelmente estranho, um cabelo a cada dia de uma cor e de um tamanho, tudo que ele adorava.
Se surpreendia com o fato de ela se envergonhar quando ele a elogiava.
É tão raro uma garota se envergonhar, hoje em dia, que ele achava isso incrível.
Era como um oásis, um pouco de frescor, de idéias decentes, em meio ao lixo de todo dia.
Porque, para ele, boas idéias eram tudo.
Nunca havia nem segurado sua mão, mas já havia se divertido com ela mais do que com muitas garotas que haviam corrido por entre seus dedos.
Mas não, ele não pensava nela todos os dias, ou escrevia seu nome nas coisas.
Não era apaixonado por ela, ou ouvia uma música para lembrá-la.
Apenas a admirava, e tinha consciência do quanto ela era incrível.
O mais incrível de tudo é que ela não sabia disso.
Ele queria, de alguma maneira, fazer com que ela soubesse.
Nem que, pra isso, precisasse lhe escrever alguma coisa.
Mesmo não tendo certeza se o que lhe escrevesse estaria à altura.

Mas, pensando bem, é meio inútil ter certeza.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Estavam sentados, lado a lado.
Na missa, na sala da casa dos pais dela, em alguma situação ligeiramente formal.
Seguravam as mãos um do outro.
Sentiam um prazer imenso em saber que seus joelhos se tocavam.
Assim como quando um dos dois ia dizer alguma coisa e gesticulava, tocando o outro “acidentalmente”.
Seus corpos se comportavam.
Mas os olhos...
Soltavam faíscas, e faziam promessas, quando olhavam um para o outro.
Olhares cúmplices, de quem comete um delicioso crime.
Sorrisos, um roçar de pés por baixo da mesa.
Como todas aquelas pessoas em volta eram dispensáveis...
Porque elas não desapareciam?
Eles eram o centro do universo, então, porque pessoas que os atrapalhavam continuavam lá?
Mas as pessoas não desapareceram, ao contrário da sensação de ser dono do mundo.
Essa desapareceu, e não se sabe para onde foi.

Ainda está sendo procurada, esperançosamente.
Será que alguém a trará de volta?
Quando pequenos, aprendemos com nossos pais os conceitos de certo e errado.
Alguns os levam para a vida, enquanto outros os perdem no caminho, para seu próprio bem ou mal.
Aprendemos a temer os pecados, o inferno, a maldade.
Aprendemos com nossos pais que existem sete pecados capitais, que devemos evitar a todo custo.
Aprendemos com a vida que ela é impossível sem eles.
Não deveriam se chamar sete pecados, e sim “pequenos prazeres a se apreciar com moderação”.
Imagine, por um segundo, se ninguém no mundo tivesse nem um pouco de inveja.
Parece um paraíso?
Não concordo...
Ninguém avança sem querer ter, pelo menos, o mesmo que o vizinho.
Provavelmente ainda viveríamos em cavernas.
Mas provavelmente seríamos Neanderthais felizes.
Uma pessoa sem um pouco de ira é pisada pelas outras, nesse mundo em que vivemos.
Mas o excesso de ira é responsável por guerras, assassinatos e agressões desde que o mundo é mundo.
Sem um pouco de avareza, hoje em dia, as pessoas passam fome.
Há um velho ditado árabe que diz que quem compra hoje o que não precisa, amanhã venderá o que precisa.
O mundo seria bem mais feio sem a vaidade.
A arte provavelmente não existiria, pois todo artista quer impressionar as pessoas, inflar o próprio ego, por mais que o negue.
A vaidade faz o pintor querer fazer o quadro perfeito, o músico a melhor melodia, o escritos a buscar a palavra exata.
Até os filantropos, médicos da cruz vermelha, tudo no mundo é, no fundo, vaidade.
E não há nada de errado nisso.
É a engrenagem que move a humanidade.
Ela cria desde grandes filantropos a pessoas prepotentes e inescrupulosas.
Imagine, agora, uma deliciosa pizza saindo do forno.
Aquele cheiro maravilhoso...
Muitos dos grandes prazeres da vida são culinários.
Não há nada de errado em querer o terceiro pedaço de pizza, a oitavo brigadeiro ou a vigésima bala.
Mas os estudos comprovam que a obesidade causa problemas cardíacos, e todo tipo de preconceito.
Aprecie com moderação.
E quanto à preguiça...
Se todos trabalhassem o tempo todo, seríamos um bando de neuróticos.
O que há de errado com só mais cinco minutos?
As melhores idéias surgem naqueles momentos de descontração.
Os pequenos prazeres da vida estão nas quartas-feiras ociosas.
Aquelas em que se leva os filhos ao zoológico, se assiste um filme bobo, aqueles dias em que se fica deitado, olhando para o teto, com uma música maravilhosa tocando;
Aqueles em que se fica feliz sem motivo.
Aqueles dias em que se conhece alguém incrível...
Falando nisso...
Imagine um mundo sem luxúria...
Tudo bem, provavelmente não teríamos aqueles funks horríveis e apelativos, o que seria uma grande conquista para a humanidade.
Um mundo sem o créu...
Mas que mundo terrível seria esse...
Se não fosse pela luxúria, e talvez umas três doses, você provavelmente não estaria aqui.
O amor perfeito é, ao mesmo tempo, romântico, quase platônico, em termos de sentimento.
Mas com aquela poderosa atração corporal, aquele desejo quase incontrolável.
O amor sem desejo e o desejo sem amor não vão longe.
Somos todos humanos e imperfeitos.
Todo ser humano é um pouco mesquinho, tem defeitos, egoísmo.
Não seríamos o que somos sem eles.
Um mundo perfeito seria insuportavelmente chato, pessoas perfeitas são irritantes.
O que importa não são os defeitos das pessoas, e sim o que fazem para contorná-los.
É aquela distribuição de defeitos e qualidades que torna cada pessoa única.
Aqueles pequenos prazeres mesquinhos, de ver alguém cair no chão, se fingir de doente para não ir trabalhar, matar uma aula, fazer um comentário terrível sobre alguém, por mais terrível que possa parecer, são parte de todos nós.
Ninguém deve tentar ser perfeito.
Só vai se frustrar.
Nem um anjo nem um demônio, busque ser o melhor ser humano que conseguir.
Seja simpático com as pessoas, mantenha suas promessas, não jogue lixo na rua.
Evite a gordura trans e tente ser feliz de um modo que prejudique os outros o mínimo possível.
Aproveite os pequenos prazeres da vida.
Deite em uma rede, de um modo perigosamente preguiçoso, admire como sua nova camisa cai bem em você, fique irado com as notícias do jornal da noite, entre em seu carro, pensando em comprar um igual ao do vizinho da frente.
É mais bonito.
Vá com a mulher da sua vida a um restaurante onde a comida seja deliciosa.
Pelo amor de Deus, não peça o champanhe mais caro do cardápio.
Saia do restaurante e aproveite.
Ela é a mulher da sua vida, e a noite está linda.
Afinal, a vida é feita destes pequenos prazeres...

domingo, 6 de abril de 2008

Ando precisando de dias bonitos.
Deitar e observar formatos nas nuvens, olhar para a esquerda e dizer:
Eu te amo.
Tornar um dia comum extraordinário, tornar uma pessoa comum extraordinária.
Ver em alguém o que gostaria de ser.
Rir das piores situações, de donos de casas que aparecem sem avisar, picadas de mosquito e lugares estranhos, criar teorias e fazer comentários.
Transformar um dia absolutamente banal em um dia memorável.
Ando precisando de alguém com quem possa fazer aqueles planos improváveis.
Com quem uma ida ao cinema para assistir um filme ruim se torne um programão, que eu espere ansiosamente.
Com quem tomar um sorvete seja incrível, simplesmente andar pela rua me deixe alegre.
Uma simples presença que me faça feliz.
Uma presença que me conforte.
Alguém que me deixe ansioso, no domingo, para que a segunda-feira chegue logo.
Afinal, vou vê-la...
Que acordar cedo e as frustrações do dia-a-dia não signifiquem muita coisa para mim.
Que eu não me sinta tão lamentavelmente sozinho, e sim ligado a alguém semelhante.
Me identificar com as semelhanças e amar as diferenças, os detalhes.
Me admirar com um olhar, um nariz, um jeito de bocejar.
O jeito de falar uma palavra.
Andar de mãos dadas, comentar sobre as pessoas, rir de pequenos assuntos do dia-a-dia.
Comentar meu dia, trocar opiniões.
Rir de coisas idiotas, ter algo de bom no que pensar antes de dormir.
Chamar um dia de dia perfeito, escrever um poema, roubar uma flor no jardim da casa de uma velhinha e entregar a ela.
Não sei se eu sou anormal, se nasci no lugar ou época errados ou estou sendo idiota.
Mas não me sinto parte desse mundo onde piriguetes dançam o créu.
Ando pelas ruas e não me sinto parte daquilo tudo.
As pessoas se tornaram brinquedinhos umas das outras.
São apenas objetos para conseguir um pouco de diversão ou a admiração dos amigos.
Talvez tudo esteja melhor, talvez as pessoas estejam mais felizes, se divertindo mais, mas, no fim, me parecem tão sozinhas...
Talvez eu esteja mesmo ficando velho.
Minha visão e minha coluna já não são mais as mesmas...
Talvez por minha visão já ter sido afetada, ver as pessoas como simples números, como simplesmente mais uma na lista.
Não digo que as pessoas devam levar tudo a sério, juntas para sempre, etc...
Não!
Mas apenas se importar com a qualidade das experiências da sua vida, e não na quantidade.
Antes só que mal-acompanhado.
É difícil ser seletivo hoje em dia.
Preferir a qualidade, ter um pouco de amor-próprio, se guardar para os bons momentos.
Uma garota, uma vez, passou uma semana na minha vida.
Foi uma experiência mais incrível, mais recompensadora do que outras pessoas vivem em meses, nos quais passam quinze pessoas.
Muitos amigos meus, se tiverem quinze garotas à disposição, dão um jeito de conseguir as quinze.
Eu vejo, entre as quinze, a que valer a pena, e corro atrás dela.
Mas não vou mentir que às vezes sinto um pouco de inveja dessas pessoas cuja única preocupação é em ter o celular do momento e arranjar alguém legar para o fim de semana..
Deve ser tão mais simples...

-Peguei 5 esse mês cara!
-Legal.
-E você?
-Conversei com ela, trocamos uns olhares, segurei a mão dela.
-E não pegou?
Simplesmente levanto os ombros e digo:
-Melhor não tentar explicar.

domingo, 30 de março de 2008

-Mas e se a sua mãe aparecesse aqui agora, imagina?
-Seria engraçado...
-Eu juro que não te entendo...
-Eu também não.



Uma conversa, há algum tempo atrás, me fez começar a pensar.
Conversávamos sobre pessimismo, otimismo e realismo.
Comecei a me perguntar:
Seria eu um otimista ou pessimista.
Percebi que não faço parte de nenhum desses grandes grupos.
Como acontece com freqüência, que sou uma exceção.
Provavelmente o pessimista mais otimista do mundo, ou vice-versa.
Tanto faz.
Sempre tive uma tendência a observar o lado ruim das coisas, a ver defeitos em tudo, a esperar o pior das situações.
Sempre pensei na Lei de Murphy como o que rege o universo.
Mas não olho o lado ruim das coisas como um velho rabugento.
Me divirto com essas situações.
Sou o primeiro a rir quando tropeço ou derrubo algo, um dia em que tudo dá errado acaba se tornando cômico para mim.
Sou o tipo de pessoa que, ao ficar paralítica, olha para os próprios tênis e começa a rir, pensando em quanto tempo irão durar agora.
Contanto que consiga divertir alguém com a história, um pequeno desastre do cotidiano não me afeta.
Observar a ironia das cenas do cotidiano também me diverte.
A falsidade das pessoas, os detalhes que só eu percebo, tudo isso me faz rir com freqüência.
Tiradas sarcásticas e alguma dose de humor negro, comentários maldosos sobre as pessoas...
Por mais que isso tudo pareça reprovável, me diverte.
Divertir-me com o ridículo da vida é, talvez, a única defesa que tenho...

Vai dar errado, eu sei...
Mas e daí?
Um pequeno desastre é sempre tão engraçado.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Era mais uma daquelas noites de garoa e um pouco de neblina, daquelas nas quais o asfalto reflete a luz dos postes e ninguém está nas ruas.
Era o que ele observava pela janela.
Deu um pequeno suspiro, amassou o cigarro no cinzeiro e andou vagarosamente em direção a seu quarto, cantarolando uma velha canção com uma melodia lenta e triste.
Abriu o armário, procurando por algum livro, algo que o distraísse...
Encontrou, jogada em um canto e coberta de poeira, uma velha caixa de papelão.
Não a via há tanto tempo...
Estava carregada de tantas lembranças boas e frustrantes, tantos planos que não haviam se concretizado, tantas alegrias inesperadas, surpresas, festas e amizade, era uma caixa tão repleta de sua própria história que o assustava.

Abriu a caixa e pegou a primeira das fotos.
Um grande grupo de pessoas, em uma daquelas festas.
Estranho...
Havia perdido o contato com quase todos eles...
E, pensando bem, isso não fazia diferença alguma.
Tinha notícias vagas de uns ou outros, um havia se tornado médico, outro, biólogo, havia também o que havia sido preso depois de matar um cara.
Parecia tão feliz naquela foto...

Pegou a segunda foto.
Um pequeno grupo de amigos, reunido em uma varanda.
Os melhores.
Eram imortais.
Olhou para os rostos de cada um.
Estavam tão felizes...
Faziam planos.
Também havia perdido o contato com eles.
A distância, o tempo, a vida os havia separado.
Um continuava naquela cidadezinha.
Tinha uma esposa linda, seu filho mais velho provavelmente tinha dezesseis anos, hoje em dia.
Estranho pensar nele como mais um cidadão normal...
O outro tinha tido uma idéia genial, e apostado tudo nela.
Tinha uma mansão, cinco carros, todas as mulheres falsas e bajuladores do mundo.
E, não podemos esquecer, uma frustração enorme.
Estranho pensar nele frustrado, depois de conseguir tudo com o que sonhara tanto...
Olhou longamente para o rosto do terceiro.
O mais promissor de todos, talvez.
Era o melhor deles.
E ainda seria, se seu carro não tivesse ido de encontro àquela árvore.
Olhava distraído para o nada na foto, rindo da piada de alguém. E tinha saído com aqueles olhos vermelhos e brilhantes.
Parecia tão feliz naquela foto...

Ele ia olhando, foto por foto.
A cada registro de alegria uma certeza estranha ia se formando em sua cabeça.
Fotos de uma praia, um pub, um pequeno estúdio, várias casas, incluindo a sua própria.
Restava no fundo da caixa um monte de fotos preso por um elástico.
Ele sabia exatamente que fotos eram, ansiava por elas, assim como as temia, desde o momento no qual abriu aquela caixa.
Os retratos de um tempo incrivelmente feliz.
Pegou a primeira delas, a mais antiga.
Ela o abraçava, daquele jeito espontâneo que só ela tinha.
Seus rostos estavam encostados, e eles sorriam.
Fazia tanto tempo...
Olhou para aqueles olhos que costumavam olhá-lo daquele jeito incrível.
Para aquela boca que o beijava, e seu cabelo.
Imediatamente uma imagem se formou em sua cabeça.
Pés ligeiramente para dentro, pernas bonitas, um sorriso estranho, olhos encantadores, um jeito de falar bastante próprio, uma voz bonita.
Uma cintura perfeita, pelo menos para ele, e uma ligeira falta de auto-estima, que ele adorava.
Olhou todas as outras fotos.
Eles em casas de amigos, festas, praia, no casamento de um amigo, e no deles próprios.
Olhou bem para eles...
Que dia incrível.
Tudo parecia possível.
Mesmo que não fosse.
A sua casa, seu cachorro.
Sorrisos.
Pareciam tão felizes.

Aquela certeza estranha...
De que sua estava passando sem ele.

Era um insulto a todas aquelas lembranças que seu presente fosse pior do que elas.
Decidiu reunir todas aquelas pessoas que ele mesmo havia tirado de sua vida, aos poucos.
Aqueles velhos amigos ficaram surpreendentemente felizes com aquela ligação.
Depois de tantos anos, aquelas pessoas estariam reunidas novamente, apesar de que uma delas nunca estaria lá...
Mas não havia tempo para pensar nisso.
Havia mais uma ligação que devia fazer...
E essa não podia esperar.
Era mais uma daquelas noites de garoa e um pouco de neblina, daquelas nas quais o asfalto reflete a luz dos postes e ninguém está nas ruas.
Era o que ele observava pela janela.
Deu um pequeno suspiro, amassou o cigarro no cinzeiro e andou vagarosamente em direção a seu quarto, cantarolando uma velha canção com uma melodia lenta e triste.
Abriu o armário, procurando por algum livro, algo que o distraísse...
Encontrou, jogada em um canto e coberta de poeira, uma velha caixa de papelão.
Não a via há tanto tempo...
Estava carregada de tantas lembranças boas e frustrantes, tantos planos que não haviam se concretizado, tantas alegrias inesperadas, surpresas, festas e amizade, era uma caixa tão repleta de sua própria história que o assustava.

Abriu a caixa e pegou a primeira das fotos.
Um grande grupo de pessoas, em uma daquelas festas.
Estranho...
Havia perdido o contato com quase todos eles...
E, pensando bem, isso não fazia diferença alguma.
Tinha notícias vagas de uns ou outros, um havia se tornado médico, outro, biólogo, havia também o que havia sido preso depois de matar um cara.
Parecia tão feliz naquela foto...

Pegou a segunda foto.
Um pequeno grupo de amigos, reunido em uma varanda.
Os melhores.
Eram imortais.
Olhou para os rostos de cada um.
Estavam tão felizes...
Faziam planos.
Também havia perdido o contato com eles.
A distância, o tempo, a vida os havia separado.
Um continuava naquela cidadezinha.
Tinha uma esposa linda, seu filho mais velho provavelmente tinha dezesseis anos, hoje em dia.
Estranho pensar nele como mais um cidadão normal...
O outro tinha tido uma idéia genial, e apostado tudo nela.
Tinha uma mansão, cinco carros, todas as mulheres falsas e bajuladores do mundo.
E, não podemos esquecer, uma frustração enorme.
Estranho pensar nele frustrado, depois de conseguir tudo com o que sonhara tanto...
Olhou longamente para o rosto do terceiro.
O mais promissor de todos, talvez.
Era o melhor deles.
E ainda seria, se seu carro não tivesse ido de encontro àquela árvore.
Olhava distraído para o nada na foto, rindo da piada de alguém. E tinha saído com aqueles olhos vermelhos e brilhantes.
Parecia tão feliz naquela foto...

Ele ia olhando, foto por foto.
A cada registro de alegria uma certeza estranha ia se formando em sua cabeça.
Fotos de uma praia, um pub, um pequeno estúdio, várias casas, incluindo a sua própria.
Restava no fundo da caixa um monte de fotos preso por um elástico.
Ele sabia exatamente que fotos eram, ansiava por elas, assim como as temia, desde o momento no qual abriu aquela caixa.
Os retratos de um tempo incrivelmente feliz.
Pegou a primeira delas, a mais antiga.
Ela o abraçava, daquele jeito espontâneo que só ela tinha.
Seus rostos estavam encostados, e eles sorriam.
Fazia tanto tempo...
Olhou para aqueles olhos que costumavam olhá-lo daquele jeito incrível.
Para aquela boca que o beijava, e seu cabelo.
Imediatamente uma imagem se formou em sua cabeça.
Pés ligeiramente para dentro, pernas bonitas, um sorriso estranho, olhos encantadores, um jeito de falar bastante próprio, uma voz bonita.
Uma cintura perfeita, pelo menos para ele, e uma ligeira falta de auto-estima, que ele adorava.
Olhou todas as outras fotos.
Eles em casas de amigos, festas, praia, no casamento de um amigo, e no deles próprios.
Olhou bem para eles...
Que dia incrível.
Tudo parecia possível.
Mesmo que não fosse.
A sua casa, seu cachorro.
Sorrisos.
Pareciam tão felizes.

Aquela certeza estranha...
De que sua estava passando sem ele.

Era um insulto a todas aquelas lembranças que seu presente fosse pior do que elas.
Decidiu reunir todas aquelas pessoas que ele mesmo havia tirado de sua vida, aos poucos.
Aqueles velhos amigos ficaram surpreendentemente felizes com aquela ligação.
Depois de tantos anos, aquelas pessoas estariam reunidas novamente, apesar de que uma delas nunca estaria lá...
Mas não havia tempo para pensar nisso.
Havia mais uma ligação que devia fazer...
E essa não podia esperar.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Ele estava pensando sobre essa coisa tão estranha chamada saudade.
Lembrava, como sempre, dela.
Era uma saudade cotidiana, de coisas pequenas.
Constantemente se perguntava se ela ainda lembrava dele ao ouvir aquela determinada música, se tinha lido alguma vez aquele livro do qual ele havia falado.
Se perguntava se ela ainda gostava de palmito, se ainda tinha aquele olhar, aquele jeito de apontar para as pessoas quando estas faziam uma piada e ela ria.
Se ainda tinha aquele mesmo riso.
Se já tinha terminado de assistir o filme que eles haviam parado no meio, se ainda dizia “orquídeas” daquele jeito que só ela sabia dizer e no qual só ele achava graça.
Se ainda tinha as mesmas expressões, fossem elas faciais ou de linguagem.
Se ainda começava as frases com “pensa numa menina que...”.
Se perguntava se ela ainda tinha o hábito irritante de deixar as roupas atrás da porta do banheiro, se ainda jogava truco e se suas mãos ainda se encaixavam em torno de sua cintura.
Se ela se lembrava da velha casa, do velho da rua sem saída.
Se ela ainda se lembrava de suas fugas, os lugares pelos quais haviam passado, as coisas que haviam dito.
Se ela ainda tinha aquele cd que ele havia gravado para ela, com uma dedicatória.
Se ela se lembrava de como aquele dia havia sido lindo.
Passava por sua cabeça se ela ainda importava, ou pelo menos se lembrava das coisas que haviam dito, das músicas que se haviam dedicado, da recíproca.
De como o cabelo dela sempre era levado pelo vento e atrapalhava seus beijos.
Daquele dia no cinema, de como haviam se conhecido ao acaso, se ela ainda pensava o mesmo sobre as pessoas e o mundo.

Pensava em como era aquele mundinho sem ele.

E quanto a ela...
Se perguntava se ele ainda tinha uma piada para tudo, se ainda gritaria que a amava no meio da rua, sem se importar com as pessoas ao redor.
Se perguntava se era só para ela que ele havia dedicado aquela música, quem era aquela garota ao lado dele, naquele dia.
Se aquela banda que ele havia começado a formar estava dando certo.
Se ele ainda se reunia uma vez por semana com seus amigos, se seu futebol ainda era horrível e se ainda lia muito.
Havia adorado o livro do qual ele falara tanto.
Também se perguntava se, com quem quer que ele estivesse, se ele a segurava pela cintura ao andar pelas ruas, se parava na esquina e a observava ir embora, se ainda ria sem motivo.
Se ainda era sarcástico e resmungão, se ainda escutava aquelas músicas do cd que havia gravado para ela.

Pensava em como era aquele mundinho sem ela.

E continuavam, apesar de tudo, distantes.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Me lembro da peimeira vez qeu entrei naquela casa.
Aquela casa estranha, peculiar, cheia de objetos estranhos.
Uma estátua budista, objetos egípcios, um quadro contendo um pi.
E aquelas pessoas incríveis.
Uma segunda família, para mim.
Em todos os sábados.
Quando todos se reuniam para um filme e uma pizza, nos dias de simples falta do que fazer, sempre havia um lugar para ir, no qual me sentia bem, es isso era reconfortante.
Ainda é.
São as pessoas a quem recorreria se minha casa pegasse fogo.
E que eu admiro, imensamente.

3,14.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Hoje passei por um lugar incrível.
Um lugar memorável, repleto de boas lembranças.
Estranho...
Para as pessoas em torno de mim, parecia apenas um pedaço de grama.
Era apenas um pedaço de grama para eles.
Eu sou uma das únicas duas pessoas no mundo que têm noção do significado daquele lugar.
Sou também uma das únicas duas pessoas que têm uma noção completa do significado da “foto beleza americana”, e das circunstâncias incríveis que a geraram.
Sei o que significa aquela casa velha, aquele velho cão, aquela escada.
Mas sou um dos poucos.
E, para mim, esse tipo de situação é o que há de mais particular nas relações entre as pessoas.
Aquelas histórias que só as pessoas de um determinado grupo sabem, aquelas expressões que só eles usam, aquelas piadas internas.
Aqueles comentários simples, que passam despercebidos pelas pessoas me geral, mas fazem uma pessoa entre todas gargalhar, pois só ela tem condições de saber o que significa.
Guardar, junto com alguém, um segredo, e dar pequenos sinais para as pessoas em volta, pequenas pistas que nunca serão capazes de seguir.
Ter, entre seus amigos, um simples gesto, um código, um levantar de sobrancelhas que os faça entender o que não se pode falar no momento.
Ter um apelido estúpido, por causa de um acontecimento de três anos atrás, que só três pessoas sabem o que significa.
Afinal, o que seria de um amor ou uma amizade sem isso?
Mais um em uma lista, da qual não se pode diferenciar uns dos outros.
Seriam todos iguais, afinal.

And I want something good to die for...
Do make It beautiful to live.
(Queens Of The Stone Age)


Ultimamente, tenho sentido falta de esperar ansiosamente por alguma coisa.
Sentir aquele frio na barriga, viver aquela expectativa agradável.
Passar o dia, a semana na expectativa de algo.
Ter a consciência de que o amanhã será melhor que o hoje.
É extremamente desagradável acordar de manhã sem grandes expectativas, sem algo que o sustente pela semana, um oásis, uma luz no fim do túnel, um porto seguro.
Uma pessoa, um evento, o presente mais fútil.
Qualquer coisa que mate essa monotonia.
Um amor, um desafio, uma novidade.
Conhecer pessoas novas.
Qualquer coisa.
Qualquer coisa que acabe com esses dias vagamente agradáveis, nem bons nem ruins, médios.
Sem nada de notável que me faça lembrá-los daqui a quinze anos.
A rotina mata aos poucos.
Por mais contraditório que pareça, todos precisam fazer alguma loucura, de tempos em tempos para conseguir manter a própria sanidade.

E o prazo de validade da minha última já está acabando.

Preciso de novas loucuras, novas situações inusitadas e satisfatórias.
Preciso fazer uma loucura, gritar que amo alguém, pular de pára-quedas, viajar para a Tailândia.
Preciso pular vestido em uma piscina e me cercar de pessoas que gosto, ligar só para ouvir a voz daquela pessoa no telefone, tocar uma campainha e correr.
Acho que eu preciso parar um pouco de pensar e viver um pouco mais.

Só isso.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ah, look at all that lonely people,
Where they all come from?
All that lonely people,
Where they all belong?
(Eleanor Rigby – The Beatles)


E ele olhou em volta.
Ele já havia visto tudo aquilo antes, e não era um dejà-vu.
Uma cena idêntica veio à sua memória.
Uma festa, há anos atrás.
Olhou para aquele garoto sentado em um canto, infeliz em meio à felicidade alheia.
Todos alegres naquela festa.
E ele se sentia um peixe fora d’água.
Não se sentia parte daquilo.
Não pensava o mesmo que aquelas pessoas.
Não viu apenas uma festa, mas várias outras situações similares.
Aquele pequeno garoto se sentia sozinho.
Não que fosse solitário.
Geralmente estava cercado de pessoas.
Quem o visse não saberia o quão sozinho era.
Ele podia estar sozinho em um canto, mas logo surgia alguém para chamá-lo, para conversar com ele.
As pessoas podiam elogiá-lo o quanto fosse, ele não acreditava realmente.
Tinha sempre a impressão de ser insuficiente, desnecessário, de que tudo ali correria muito bem sem ele.
A sensação de ser figurante, personagem secundário em uma peça sem importância.
E não havia admiração, não importava o quanto aparecesse, o quanto se destacasse, isso apenas lhe dava a impressão de estar contrariando sua própria natureza.
E ao mesmo tempo, sabia que não podia estar sozinho.
Não era nenhum alívio ficar apenas com as próprias lembranças como companhia, a não ser em casos de felicidade excepcional, mas esses eram episódios esporádicos.
Quando não havia ninguém para elogiá-lo ou encorajá-lo, ele parecia minúsculo, e seus sonhos, inatingíveis.
Pretensiosos até.
Era demais imaginar que ele poderia ter tudo aquilo com que sonhava.
Aos olhos de um observador externo, poderia até ser o personagem principal, mas, ele sabia ser apenas o camponês número três.
Insignificante demais para contracenar com ela, no final.
Insignificante demais para que o roteirista se interessasse em lhe dar um final feliz.
Por mais que o chamassem para protagonista.
Mudaram as estações e nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Esta tudo assim tão diferente...
Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era para sempre
Sem saber
Que o para sempre
Sempre acaba?
(Renato Russo)


Quando ela lhe disse que deveriam conversar, ele pressentiu que não havia algo de bom vindo.
Embora tudo estivesse perfeitamente bem, tinha tido um pressentimento estranho naquela semana, pensava que havia algo de errado, diferente, irregular. Só não sabia especificar o quê...
Se encontraram no mesmo lugar de sempre.
Viram as mesmas pessoas de sempre.
Desceram para o mesmo lugar no qual sempre se sentavam, mas ele via algo de estranho em seus olhos.
Ela parecia querer dizer algo, mas hesitava tanto...
Se beijaram, então, como sempre.
Ela pareceu tomar coragem.
Olhou no fundo dos olhos dele, e lá ele viu tristeza. E se alarmou com aquilo.
Ela começou a passar os dedos por sua mão, e olhar para ela como se nunca a tivesse visto, como se quisesse guardar cada detalhe.
Como se tentasse memorizar cada detalhe, cada poro, como se dali a cinco minutos ela lhe fosse escapar.
Com um ar já saudoso.
Disse então a ele que se sentia culpada em prendê-lo a seu lado, pelo pouco tempo que tinham para se ver.
Ele não entendia absolutamente nada.
O tempo que tinham para se ver era realmente curto, mas era recompensador para ele.
Ela disse, então, que precisavam de um tempo indefinido.
Bom, pensou ele, mais um fora educado, mais um pretexto, mais uma frase feita.
Mudou de idéia quando ela o abraçou com força, e disse que de todos que haviam passado por sua vida, tinha sido aquele que havia valido a pena, que realmente o amava, que tudo que havia dito até então era verdade.
Ele também a abraçou,,e continuaram lá, sentados, tristes.
Recomeçaram então a se beijar, pelo resto do tempo em que ficaram lá sentados.
Na despedida, deram o melhor de todos os beijos, desesperado, apaixonado, maravilhoso, transcendental.
Êxtase.
Havia nele a vontade de que fosse eterno, a angústia de saber que aquele provavelmente seria o último, a vontade de fazer com que fosse memorável, incrível.
Aquela longa despedida, da qual não se esqueceriam.
Ele foi para a rua de baixo, ela para a de cima.


Ele chegou em casa, tomou um banho, trocou de roupa e saiu.
Não pretendia passar aquela ressaca sentimental sozinho.
Foi em direção à casa de um amigo, contar tudo que havia acontecido, dividir aquela carga que sabia que seria muito para ele carregar sozinho.
Foi o caminho todo pensando.
Lembrou-se, então, quando o dono de uma casa lhes jogou água para saírem de sua calçada.
Se lembrou das conversas que tinham, os comentários que faziam, suas teorias, aquelas histórias que só eles conheciam.
Aquela velha casa, na frente da qual haviam sentado, o modo como haviam começado a namorar, que lembrava um filme de comédia.
O modo como haviam se conhecido, a atração.
Se lembrou de que gostava de observá-la ir embora, entrar em casa.
Se lembrou de um dia em um cinema e quando realmente conversaram pessoalmente, aquele momento em que deixaram de ser duas fotos no canto da tela para se tornarem duas pessoas, as manobras para evitarem os pais dela, as músicas que haviam dedicado um ao outro, as palavras que haviam dito, as conversas sobre livros, música e futuro.
Seus planos, a admiração e, porque não dizer, o desejo.
Seu sorriso, seu rosto e aquele olhar impossível de imitar.
Tentou visualizar seu rosto e não conseguiu.
Apenas uma pequena imagem vaga....
Mas havia as lembranças, que lhe diziam que aqueles poucos meses não seriam esquecidos em toda uma vida, e que tinham valido a pena.
Cada segundo deles.
E que, se tudo acabava assim, havia um consolo.
Guardaria apenas boas lembranças, como se guarda de um amigo que morre jovem.
Lembraria como tempos intensos, onde tudo era encantador e novo.
E como uma das melhores épocas de sua vida, até então.
E a vida tinha que continuar.
Se ele parasse, a vida continuaria sem ele.
E isso ele não podia admitir.
Passou aquela noite cercado de amigos de verdade, e isso o alegrou...
Havia, sim, uma luz no fim do túnel.

With steam, heat, and rhythm in the back seat of the car
An adolescent perspective projecting life's forecast to the stars
You heard love from the lips and you were rapt by the hips
And the promise was eternal but we couldn't see that far…
(Greg Graffin)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Esse texto vai para aquela garota que não sabe o quanto é incrível.



Ela tinha aquela devoção por ele, do tipo que apenas as pessoas mais incríveis têm, geralmente pelas pessoas que menos merecem.
Geralmente, as pessoas mais incríveis não sabem que o são...
Fazia tudo o que podia por ele, sacrificava os próprios interesses, as próprias necessidades, por alguém que nunca lhe deu valor.
Agradecia, a elogiava, e se esquecia de tudo no dia seguinte.
Fazia as maiores cagadas, e ela sempre perdoava, sempre tinha a esperança, no fundo, de que ele realmente mudasse.
Mas isso não aconteceu...

O que ela não percebeu foi que ela não deveria fazer tudo por ele, e sim o contrário.
Que ele não era assim tão incrível.
Ela era.
Não era ela a sortuda, e sim ele.

Mas ela não era, e ainda não é capaz de perceber isso.


É uma daquelas pessoas raras quu fazem tudo pelos outros.
Provavelmente a única que já conheci.
O tipo de pessoa que está em falta por aqui.
Eu mesmo não sou uma delas...
Ela merecia tudo, e não aquilo.
Mas a sua própia naturaza parece inpedí-la de buscar outro caminho...

Pelo menos, agora, saiba que existe alguém que admira seu jeito, sua natureza, sei lá.
Você.
Não que seja muita coisa.
Mas já é alguma.


Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.
(Legião Urbana)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

É tão estranha essa coisa de se apaixonar por alguém...
Amar outra pessoa, elevá-la acima das outras.
Amar uma formação de moléculas de carbono, como você, apenas por ela assumir a forma de olhos azuis, um sorriso com covinhas, seios ou um sorriso.
Amar um ser como você, colocar um outro ser no centro do universo, simplesmente por ser animado por uma personalidade diferente da sua.
Achar, acreditar realmenete, mesmo que esteja acontecendo pela milésima vez, que é incapaz de viver sem aquela pessoa.

E ser, por algum tempo, incapaz.

Não precisar de mais nada, para se sentir feliz, do uqe a presença da pessoa amada.

Seja o que for, o amor.
Seja uma reação hormonal no cérebro, seja algo divino, um instinto, o que for.

Isso não importa.

Não se deve tentar entendê-lo, e sim vivê-lo.

Pode até acabar mal...

Mas, enquando dura...

Estavam deitados, lado a lado.
Frente a frente.
Olhavam um nos olhos do outro.
Ela estava absolutamente linda.
Mais um daqueles acasos estranhos da vida, um daqueles momentos estranhos e inesquecíveis.
Ainda nem haviam se beijado...
Seus rostos estavam mais próximos do que nunca.
Ele a abraçou.
Prestou atenção, para ver se ouvia algum som naquela casa silenciosa.
Passos, o ranger de uma cama.
Nada.
Ele podia sentir sua respiração, o ar passava levemente por sua boca.
Apenas cinco centímetros.
Pareciam maiores que quilômetros.
Parecia uma distância intransponível.
Pensou nas implicações do que estava para fazer.
Poderiam ser realmente graves.
Mandou a preocupação para o inferno, e a beijou.
Primeiro, levemente.
Não mais que um roçar de lábios.
Depois, um beijo verdadeiro, que havia sido contido por tanto tempo...
A noite parecia tão curta, assim como a vida, e deveriam se aproveitados.
Aquela sensação de êxtase.
De estar fazendo algo que havia sido proibido.
E como ela estava linda...
Foi como um pouco de colorido surgindo novamente, no meio daquela vidinha monocromática que ele levava.
Um pouco de risos e desejo.
Talvez um pouco de frescor, de juventude, surgindo na vida de alguém que parecia envelhecer antes do tempo.

A sensação maravilhosa de guardar um segredo a dois...
De se arriscar, de dar pequenos sinais para as pessoas, pistas que nunca conseguiriam seguir, que poderiam levá-las ao que aconteceu.
De deixar algo nas entrelinhas, que só o outro entenderá.
De saber que fez uma loucura completa, se arriscou, que fez, depois de tanto tempo, algo que o assustava.
De saber que aquilo era algo de que sempre se lembraria.E que tinha, novamente, uma lembrança para alegrá-lo.

E ele sabia que sentiria saudades daqueles momentos, mas também sabia que eles não teria tido seu encanto se não tivessem sido tão efêmeros.


You know I did It, It’s over and I feel fine
Nothing you can say is gonna change my mind
Played It, I waited the longest night
Nothing like the taste of the sweet decline.
(DOA – Foo Fighters)

sábado, 26 de janeiro de 2008

Há algum tempo, enquanto conversava com alguém, imaginamos uma situação estranha.
Se por um acaso, alguém descobrisse que, não sei...
Um asteróide vem de encontro à terra.
Não há como impedi-lo, todos morrerão dentro de seis meses.
Paramos, então, pra pensar o que faríamos nesses seis meses, o que as pessoas em geral fariam.
Na minha humilde opinião, o mundo se dividiria em duas partes.
Uma grande igreja, todas as pessoas que tentam, no ultimo minuto, salvar as próprias almas da cólera divina que virá dos céus.
A outra parte, à qual eu provavelmente pertenceria, buscaria uma experiência de vida mais autêntica.
Sem medo de conseqüências ou julgamentos alheios.
De satisfazer vontades e sentidos, o tipo de vida que só se tem quando o futuro lhe é negado.
Realizar sonhos bizarros.
Pôr fim à timidez, dizer para as pessoas exatamente o que penso.
O quanto são incríveis e estúpidas e, acima de tudo, indispensáveis.
O quanto as amo ou odeio.
De experimentar tudo, fazer algo assustador a cada dia.
Viver cada daí como se fosse o último, em preparação àquele que se aproxima, talvez como um modo de se agarrar desesperadamente à vida.
A quem tive essa conversa, se o mundo acabasse em seis meses, com certeza diria muitas coisas, a timidez extinta, o fim próximo, mas, talvez, belos seis meses, os últimos, nos quais haveria o esforço para que valessem a pena.

Em outra ocasião, sentado em uma varanda, em um dia de chuva, cercado de pessoas totalmente diferentes, tive uma conversa que me fez pensar se me arrependo de minha vida.
Se, talvez, fosse atropelado por um carro ou levasse um tiro, hoje.
Eu me arrependeria do que fiz e não fiz?
Do modo como vivi?
Dos meus erros e acertos, de todas aquelas experiências e memórias que fazem de mim o que sou?
Pensei muito sobre isso.
Acho que minha vida, até agora, tem um saldo positivo.
Acho que não mudaria nada, apesar de isso ser tentador.
Mesmo os erros mais estúpidos, as piores situações, as piores memórias serviram para alguma coisa.
Ensinaram algo, da forma mais amargo possível.
E eram, talvez, a única coisa que podia ser feita no momento.
Muitas vezes, uma infelicidade funcionou como degrau para alcançar uma felicidade maior, como conseqüência.
De algum modo estranho, as coisas parecem se encaixar.
Me arrependeria, logicamente, das vezes em que deixei de fazer algo por medo, timidez, nas vezes em que deixei uma alegria para depois, e o depois não chegou.
Lembraria com carinho de amigos, amores, acasos e circunstancias.
Riria novamente com aquelas situações e momentos descontraídos, choraria, e me enraiveceria.
Mas, acho que, morrendo hoje, poderia dizer que não sobrevivi, apenas, vivi.


Essas conversas e reflexões me levaram a pensar que a vida é realmente efêmera.
Só se tem uma chance, então, porque deveria, como antes, adiar uma alegria, ter medo da vida?
Decidi, antes que me esqueça, viver de modo a, quando morrer, não ser apenas um número em um atestado de óbito, e o habitante do lote 145 do cemitério da saudade.
Ser lembrado, pelas pessoas que me cercaram.
Não ter passado pela vida como apenas mais um entre um milhão, mais uma cara igual na multidão.
Mais um pobre-diabo derrotado por si mesmo, pelo próprio medo de viver plenamente.

Porque viver plenamente, sair do conforto, da apatia, se livrar de auto-idealizações, costumes e clichês é um pouco assustador, dá uma sensação de nudez, de estar indefeso e desprotegido.
Pelo menos para mim.
Ela tinha algo de indefinível, de encantador.
Talvez fosse apenas mais uma daquelas coisas que só ele via.
Não saberia definir o que era...
Talvez aquilo que chamamos tão vagamente de expressão.
Alguma coisa com seus olhos, talvez.
Ou o formato de sua boca.
O modo como sorria, os olhos se estreitando.
Seu riso, o modo como seu rosto ficava vermelho.
Seu corpo lindo, gracioso...

Ela escrevia pequenos poemas, que guardava em uma caixa de sapatos, por não os considerar bons o suficiente.
Ouvia música incessantemente.
Muitas vezes, tinha a impressão de que falavam por ela.
A completavam.
Gostava de chuva, e andar de meias.
E o admirava, à distãncia.

Se sentia muito sozinha, ele também.
Quando ela se olhava no espelho, via algo que odiava.
Não era bonita, divertida, ou inteligente o suficiente.
Quanto a ele, quem daria alguma atenção a aquele pobre desajeitado?

Quando olhava para ele, pensava que nunca a notaria.
Ele, idem.

E a insegurança os manteve distantes.


Sempre.
Hoje senti muita falta de alguém com quem conversar.
Com quem me expressar, ou que eu simplesmente saiba que está lá.
Alguém cuja presença me sustente naqueles dias em que me arrependo de ter acordado.
Alguém que surja e continue lá.
Uma simples presença, que derrube a solidão, e o medo do fim do dia.
Precisava, na realidade de outros tempos, diferentes deste nos quais vivemos.
Um tempo em que as coisas não sejam tão fugazes, tão transitórias...
Sejam elas idéias ou músicas, pessoas ou tendências, máquinas ou pessoas, vidas ou amores.
Em que tudo não seja tão...
Descartáveis...
Em que homens e mulheres não olhem uns para os outros apenas como peças de carne em um açougue.
Como pessoas, e não como mercadorias, objetos que lhe rendam diversão ou simplesmente Status.
Em que as pessoas sejam vistas como são, indivíduos únicos e admiráveis.
E não padronizadas.
Que não se desista de uma pessoa por achar que se pode achar uma igual em qualquer esquina.
Em que sejam derrubados os preconceitos, as idéias pré-concebidas, frases feitas e clichês.
Em que não precisássemos de modelos ou heróis.
Em que as pessoas não temam umas às outras, não se protejam com grades ou máscaras.

É...
Hoje, além de sentir falta de alguém com quem conversar, senti a falta de um mundo no qual viver.
Do qual tivesse orgulho.
Mas, por ingenuidade, talvez, ou por esse pensamento me confortar, ainda acredito que ele possa existir, por mais improvável que isso seja.
Pelo menos por enquanto.
O que mais tenho tentado ultimamente tem sido me descomplicar.
Eu tenho o desagradável hábito, ou talvez vício de dificultar o que é simples.
De achar que apenas as coisas complexas valem a pena, mesmo sabendo que alguns dos melhores momentos da minha vida, se na todos, foram causados por coisas simples.
Um beijo, uma chuva, uma neblina, uma conversa com os amigos em uma varanda.
Um sino de vento, em uma casa, quando tudo parecia perdido me causou, certa vez, uma alegria inexplicável.
Uma simples pixação em uma parede salvou meu dia.
É tão mais simples ser verdadeiro com as pessoas, aceitá-las sem se dar ao esforço de julgá-las e criticá-las.
Pensar no agora, esquecer as implicações de seus atos.
Enlouquecer por um dia.
Gritar que ama alguém no meio da rua, sem temer a opinião alheia, fazer algo que apenas você entende.
Realizar aquele sonho que o medo sempre o impediu de correr atrás.
Ser, enfim, livre das pressões alheias, da sociedade e ate de si mesmo.
Tento não ser tão duro comigo mesmo.
E nem com os outros.
É minha filosofia de vida da semana.
Só não sei o quanto vai durar.
Poderia ser a metáfora perfeita, mas foi uma cena que realmente vi acontecer.
Se fosse escolher uma cena para exemplificar o isolamento e solidão dos dias atuais, escolheria sem dúvida essa.
Um dia comum, do qual não se poderia dizer nada de especial.
Nem chuvoso, nem particularmente ensolarado.
Nem triste, nem alegre.
Simplesmente comum.
Eu estava andando, pensando na vida.
Passou, então, ao meu lado, um casal.
Deviam ter vinte e poucos anos.
Andavam de mãos dadas.
Mas não conversavam, não trocavam olhares cúmplices e maliciosos.
Não diziam um simples eu te amo ou comentavam as coisas da vida.
Não se beijavam, ou abraçavam.
Seu contato se resumia às mãos.
Cada um com seu fone, ouvindo sua música.
Em sua pequena redoma.
Eles nem sequer se olhavam...
Deveriam mandar os fones para o inferno e apreciar a presença um do outro.
Ou, talvez, colocar aquela música que fazia com que um se lembrasse do outro.
Aquela música lenta e bonita, que lhes lembrava um bom momento.
Que um havia dedicado ao outro.
Dividir os fones, sentados próximos um ao outro, de modo que o fone curto os aproximasse.
Olhar nos olhos um do outro e dizer que o ama e, simplesmente, viver.
Mas não.
Continuavam, cada qual com sua música, seu universo.
Ligado apenas por suas mãos e um compromisso.
Nesse mundo de velocidade, de coisas instantâneas e descartáveis, as pessoas deveriam tentar ser mais humanas.
Se esforçar para viver a vida.
Não se contentar em conversar com os amigos pela internet.
Chamá-los para ir à sua casa jogar conversa fora, conversar sobre assuntos estúpidos.
Imaginar esquemas fora de realidade ou criar uma banda.
Não conversar com aquela garota que o atraiu apenas pelo messenger, e sim chamá-la pra fazer algo, ir a algum lugar para conversarem decentemente, nem que seja uma sorveteria ou o meio da rua.
Olhar em seus olhos e dizer o que pensa, não o que acha que ficaria mais bonito.
A realidade, sem joguinhos idiotas, e receber de volta franqueza e uma pessoa, não um número ou um objeto.
Receber, sei lá, a Juliana ou a Vanessa, e não o número 37 da sua lista.
Colecionar histórias, e não números.


Pelo menos é o que penso.
Mas não dê atenção.
Nem sempre faço o que recomendo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ele não sabia porque ela o atraía tanto...
Talvez por sempre lhe lembrar bom gosto, lhe lembrar arte.
Por poder falar livremente com ela sobre o que quisesse.
Olhos, aquele sorriso, pintas e voz.
Tudo.
Se ele estava apaixonado por ela?
Na verdade...
Não.
Era um mixto de admiração e desejo.
Desde quando a conheceu, desde quando se lembra de sua presença, tem a mesma impressão.
Mas, apesar de todas as conversas.
De todas as situações estranhas e inusitadas, apesar de ele aparentar uma eterna segurança, algo o impedia de dizer o que pensava.

De olhar nos olhos dela e dizer tudo.

E, depois, quem sabe...







Baby, let me take you home?
You Know I'm such a fool for You...

domingo, 6 de janeiro de 2008

She said "I'll throw myself away"

"They're just photos after all"

(Queens Of The Stone Age - Go With The Flow)







Não dá pra simplesmente jogar o passado na lata do lixo.
Por mais que tentemos.
Mas...
Atualmente, estou tentando criar boas recordações, para desocupar minha mente um pouco das recordações antigas.


I want something good to die for
To make it beautiful to live
I want a new mistake
Lose is more than hesitate
(Queens Of The Stone Age - Go With The Flow)