domingo, 11 de maio de 2008

Pretérito perfeito

...E então o príncipe encantado surge em seu cavalo branco, beijando a donzela e a levando em sua garupa.
E foram felizes para sempre...
Exceto quando a donzela estava com dor de cabeça, quando o príncipe broxou, quando perceberam que não se amavam mais e na separação dos bens, no divórcio.

Aprendemos a olhar as coisas como gostaríamos que fossem, e não como realmente são.
Temos memórias seletivas.
Não sei se falo apenas por mim, mas tenho uma tendência irritante de idealizar as pessoas, de ver nelas o que gostaria de ser, de me apaixonar não por uma garota, mas pela idéia dela, por aquele mundinho muito particular que a cerca.
Tenho uma tendência a me lembrar de épocas passadas como sendo perfeitas, apesar dos pequenos problemas, alguns dias parecem se cobrir de um véu de perfeição, o arroz que queimou, a unha encravada e a dor de cabeça vão para um ponto qualquer no limbo, são esquecidos.
Tenho um amigo que gosta muito de histórias dos tempos medievais, de honra e coragem.
Tempos de donzelas em perigo e homens honrados, que se arriscam pelo que acreditam.
Tempos que nem existiram de verdade, assim como algumas pessoas que já admirei.
Aquelas pessoas que admirava existiam apenas na minha cabeça.
Os indivíduos reais eram bem diferentes do que costumava pensar deles.
Quem espera a hora perfeita sempre acaba deixando as oportunidades passarem, o sujeito que busca a mulher perfeita não nota a garota que está à sua esquerda. Ela é incrível, ainda que tenha uma voz um pouco estranha.
Ninguém consegue viver sem um ideal, sem uma utopia, seja a paz mundial ou criar filhos perfeitos.
Deve-se tentar chegar o mais próximo possível do que se considera perfeito, mas com a consciência de que nada vai sair exatamente como o planejado.
São as irregularidades do caminho que fazem a vida interessante.
As pequenas alegrias inesperadas.
Imagine uma vida perfeita, onde tudo corre exatamente como planejado.
Seria ótimo.
Na primeira semana, talvez na segunda, mais ou menos até a quarta-feira.
Depois disso, apenas um tédio sem fim.
Não nascemos em um mundo perfeito, não nascemos para sermos perfeitos.
Nascemos para sermos nós mesmos.
Por mais terrível que pareça assumir os próprios defeitos, eles são parte de você.
Mais até que suas qualidades.
Esses você cultivou.
Agora, quem cultiva o próprio mal-humor?
Ele é simplesmente parte de você.
Não ser perfeito é delicioso.
A imperfeição é o que lhe permite dizer que é humano.
Homo sapiens, da ordem dos primatas, mamífero e pertencente ao reino animal.
Quanto a isso, não há como mudar.
O resto, com jeito, se resolve.

3 comentários:

carinagabriele disse...

Também tenho essa mania de depois das coisas passarem, considerá-las como perfeitas. Esqueço os problemas, as decepções..
Esse ano mesmo, quando mudei pra Cuiabá, morro de saudades dos meus amigos de São José, da cidade. Hj em dia acho lá maravilhoso, acho as pessoas de lá ótimas. Mas quando morava lá, não era bem assim. heuhauhea
É a vida, né. Como vc disse, a gente não viveria se não idealizasse as coisas, as pessoas, as situações.
Mas o inesperado, a imperfeição muitas vezes nos surpreende e nos encanta. ;)
"São as irregularidades do caminho que fazem a vida interessante."

:**

Lucas Ferdinandi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gabi disse...

fêê, meu, queria escrever como você! *-*
hahahahaha,

o texto é mto bom! mas parece que vc teve uma grande decepção com algo ou alguém... :S
se precisar de alguma coisa, já sabe né?!

beeijo