sábado, 26 de janeiro de 2008

Há algum tempo, enquanto conversava com alguém, imaginamos uma situação estranha.
Se por um acaso, alguém descobrisse que, não sei...
Um asteróide vem de encontro à terra.
Não há como impedi-lo, todos morrerão dentro de seis meses.
Paramos, então, pra pensar o que faríamos nesses seis meses, o que as pessoas em geral fariam.
Na minha humilde opinião, o mundo se dividiria em duas partes.
Uma grande igreja, todas as pessoas que tentam, no ultimo minuto, salvar as próprias almas da cólera divina que virá dos céus.
A outra parte, à qual eu provavelmente pertenceria, buscaria uma experiência de vida mais autêntica.
Sem medo de conseqüências ou julgamentos alheios.
De satisfazer vontades e sentidos, o tipo de vida que só se tem quando o futuro lhe é negado.
Realizar sonhos bizarros.
Pôr fim à timidez, dizer para as pessoas exatamente o que penso.
O quanto são incríveis e estúpidas e, acima de tudo, indispensáveis.
O quanto as amo ou odeio.
De experimentar tudo, fazer algo assustador a cada dia.
Viver cada daí como se fosse o último, em preparação àquele que se aproxima, talvez como um modo de se agarrar desesperadamente à vida.
A quem tive essa conversa, se o mundo acabasse em seis meses, com certeza diria muitas coisas, a timidez extinta, o fim próximo, mas, talvez, belos seis meses, os últimos, nos quais haveria o esforço para que valessem a pena.

Em outra ocasião, sentado em uma varanda, em um dia de chuva, cercado de pessoas totalmente diferentes, tive uma conversa que me fez pensar se me arrependo de minha vida.
Se, talvez, fosse atropelado por um carro ou levasse um tiro, hoje.
Eu me arrependeria do que fiz e não fiz?
Do modo como vivi?
Dos meus erros e acertos, de todas aquelas experiências e memórias que fazem de mim o que sou?
Pensei muito sobre isso.
Acho que minha vida, até agora, tem um saldo positivo.
Acho que não mudaria nada, apesar de isso ser tentador.
Mesmo os erros mais estúpidos, as piores situações, as piores memórias serviram para alguma coisa.
Ensinaram algo, da forma mais amargo possível.
E eram, talvez, a única coisa que podia ser feita no momento.
Muitas vezes, uma infelicidade funcionou como degrau para alcançar uma felicidade maior, como conseqüência.
De algum modo estranho, as coisas parecem se encaixar.
Me arrependeria, logicamente, das vezes em que deixei de fazer algo por medo, timidez, nas vezes em que deixei uma alegria para depois, e o depois não chegou.
Lembraria com carinho de amigos, amores, acasos e circunstancias.
Riria novamente com aquelas situações e momentos descontraídos, choraria, e me enraiveceria.
Mas, acho que, morrendo hoje, poderia dizer que não sobrevivi, apenas, vivi.


Essas conversas e reflexões me levaram a pensar que a vida é realmente efêmera.
Só se tem uma chance, então, porque deveria, como antes, adiar uma alegria, ter medo da vida?
Decidi, antes que me esqueça, viver de modo a, quando morrer, não ser apenas um número em um atestado de óbito, e o habitante do lote 145 do cemitério da saudade.
Ser lembrado, pelas pessoas que me cercaram.
Não ter passado pela vida como apenas mais um entre um milhão, mais uma cara igual na multidão.
Mais um pobre-diabo derrotado por si mesmo, pelo próprio medo de viver plenamente.

Porque viver plenamente, sair do conforto, da apatia, se livrar de auto-idealizações, costumes e clichês é um pouco assustador, dá uma sensação de nudez, de estar indefeso e desprotegido.
Pelo menos para mim.
Ela tinha algo de indefinível, de encantador.
Talvez fosse apenas mais uma daquelas coisas que só ele via.
Não saberia definir o que era...
Talvez aquilo que chamamos tão vagamente de expressão.
Alguma coisa com seus olhos, talvez.
Ou o formato de sua boca.
O modo como sorria, os olhos se estreitando.
Seu riso, o modo como seu rosto ficava vermelho.
Seu corpo lindo, gracioso...

Ela escrevia pequenos poemas, que guardava em uma caixa de sapatos, por não os considerar bons o suficiente.
Ouvia música incessantemente.
Muitas vezes, tinha a impressão de que falavam por ela.
A completavam.
Gostava de chuva, e andar de meias.
E o admirava, à distãncia.

Se sentia muito sozinha, ele também.
Quando ela se olhava no espelho, via algo que odiava.
Não era bonita, divertida, ou inteligente o suficiente.
Quanto a ele, quem daria alguma atenção a aquele pobre desajeitado?

Quando olhava para ele, pensava que nunca a notaria.
Ele, idem.

E a insegurança os manteve distantes.


Sempre.
Hoje senti muita falta de alguém com quem conversar.
Com quem me expressar, ou que eu simplesmente saiba que está lá.
Alguém cuja presença me sustente naqueles dias em que me arrependo de ter acordado.
Alguém que surja e continue lá.
Uma simples presença, que derrube a solidão, e o medo do fim do dia.
Precisava, na realidade de outros tempos, diferentes deste nos quais vivemos.
Um tempo em que as coisas não sejam tão fugazes, tão transitórias...
Sejam elas idéias ou músicas, pessoas ou tendências, máquinas ou pessoas, vidas ou amores.
Em que tudo não seja tão...
Descartáveis...
Em que homens e mulheres não olhem uns para os outros apenas como peças de carne em um açougue.
Como pessoas, e não como mercadorias, objetos que lhe rendam diversão ou simplesmente Status.
Em que as pessoas sejam vistas como são, indivíduos únicos e admiráveis.
E não padronizadas.
Que não se desista de uma pessoa por achar que se pode achar uma igual em qualquer esquina.
Em que sejam derrubados os preconceitos, as idéias pré-concebidas, frases feitas e clichês.
Em que não precisássemos de modelos ou heróis.
Em que as pessoas não temam umas às outras, não se protejam com grades ou máscaras.

É...
Hoje, além de sentir falta de alguém com quem conversar, senti a falta de um mundo no qual viver.
Do qual tivesse orgulho.
Mas, por ingenuidade, talvez, ou por esse pensamento me confortar, ainda acredito que ele possa existir, por mais improvável que isso seja.
Pelo menos por enquanto.
O que mais tenho tentado ultimamente tem sido me descomplicar.
Eu tenho o desagradável hábito, ou talvez vício de dificultar o que é simples.
De achar que apenas as coisas complexas valem a pena, mesmo sabendo que alguns dos melhores momentos da minha vida, se na todos, foram causados por coisas simples.
Um beijo, uma chuva, uma neblina, uma conversa com os amigos em uma varanda.
Um sino de vento, em uma casa, quando tudo parecia perdido me causou, certa vez, uma alegria inexplicável.
Uma simples pixação em uma parede salvou meu dia.
É tão mais simples ser verdadeiro com as pessoas, aceitá-las sem se dar ao esforço de julgá-las e criticá-las.
Pensar no agora, esquecer as implicações de seus atos.
Enlouquecer por um dia.
Gritar que ama alguém no meio da rua, sem temer a opinião alheia, fazer algo que apenas você entende.
Realizar aquele sonho que o medo sempre o impediu de correr atrás.
Ser, enfim, livre das pressões alheias, da sociedade e ate de si mesmo.
Tento não ser tão duro comigo mesmo.
E nem com os outros.
É minha filosofia de vida da semana.
Só não sei o quanto vai durar.
Poderia ser a metáfora perfeita, mas foi uma cena que realmente vi acontecer.
Se fosse escolher uma cena para exemplificar o isolamento e solidão dos dias atuais, escolheria sem dúvida essa.
Um dia comum, do qual não se poderia dizer nada de especial.
Nem chuvoso, nem particularmente ensolarado.
Nem triste, nem alegre.
Simplesmente comum.
Eu estava andando, pensando na vida.
Passou, então, ao meu lado, um casal.
Deviam ter vinte e poucos anos.
Andavam de mãos dadas.
Mas não conversavam, não trocavam olhares cúmplices e maliciosos.
Não diziam um simples eu te amo ou comentavam as coisas da vida.
Não se beijavam, ou abraçavam.
Seu contato se resumia às mãos.
Cada um com seu fone, ouvindo sua música.
Em sua pequena redoma.
Eles nem sequer se olhavam...
Deveriam mandar os fones para o inferno e apreciar a presença um do outro.
Ou, talvez, colocar aquela música que fazia com que um se lembrasse do outro.
Aquela música lenta e bonita, que lhes lembrava um bom momento.
Que um havia dedicado ao outro.
Dividir os fones, sentados próximos um ao outro, de modo que o fone curto os aproximasse.
Olhar nos olhos um do outro e dizer que o ama e, simplesmente, viver.
Mas não.
Continuavam, cada qual com sua música, seu universo.
Ligado apenas por suas mãos e um compromisso.
Nesse mundo de velocidade, de coisas instantâneas e descartáveis, as pessoas deveriam tentar ser mais humanas.
Se esforçar para viver a vida.
Não se contentar em conversar com os amigos pela internet.
Chamá-los para ir à sua casa jogar conversa fora, conversar sobre assuntos estúpidos.
Imaginar esquemas fora de realidade ou criar uma banda.
Não conversar com aquela garota que o atraiu apenas pelo messenger, e sim chamá-la pra fazer algo, ir a algum lugar para conversarem decentemente, nem que seja uma sorveteria ou o meio da rua.
Olhar em seus olhos e dizer o que pensa, não o que acha que ficaria mais bonito.
A realidade, sem joguinhos idiotas, e receber de volta franqueza e uma pessoa, não um número ou um objeto.
Receber, sei lá, a Juliana ou a Vanessa, e não o número 37 da sua lista.
Colecionar histórias, e não números.


Pelo menos é o que penso.
Mas não dê atenção.
Nem sempre faço o que recomendo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ele não sabia porque ela o atraía tanto...
Talvez por sempre lhe lembrar bom gosto, lhe lembrar arte.
Por poder falar livremente com ela sobre o que quisesse.
Olhos, aquele sorriso, pintas e voz.
Tudo.
Se ele estava apaixonado por ela?
Na verdade...
Não.
Era um mixto de admiração e desejo.
Desde quando a conheceu, desde quando se lembra de sua presença, tem a mesma impressão.
Mas, apesar de todas as conversas.
De todas as situações estranhas e inusitadas, apesar de ele aparentar uma eterna segurança, algo o impedia de dizer o que pensava.

De olhar nos olhos dela e dizer tudo.

E, depois, quem sabe...







Baby, let me take you home?
You Know I'm such a fool for You...

domingo, 6 de janeiro de 2008

She said "I'll throw myself away"

"They're just photos after all"

(Queens Of The Stone Age - Go With The Flow)







Não dá pra simplesmente jogar o passado na lata do lixo.
Por mais que tentemos.
Mas...
Atualmente, estou tentando criar boas recordações, para desocupar minha mente um pouco das recordações antigas.


I want something good to die for
To make it beautiful to live
I want a new mistake
Lose is more than hesitate
(Queens Of The Stone Age - Go With The Flow)