segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ontem, andando em um ônibus, parei para olhar para uma garota de vestido.
Não que fosse um vestido extremamente curto e decotado, daqueles que te chamam a atenção para a garota, imediatamnete, para bem ou para mal.
Seja para rir do ridículo ou admirá-la.
Não, era um vestido nem muito curto, nem muito decotado, nem ao menos muito justo.
Daqueles que escondem bem mais do que mostram.
Na verdade, não escondem, deixam subentendido.
E o subentendido tem todo um encanto.
Dá abertura para a imaginação. Nos tempos em que vivemos, não há espaço para isso.
Eu imagino como deveria ser, para o homem medieval, sua primeira vez com sua esposa.
Ele não sabia como ela era, na verdade, por baixo das dezessete camadas de pano.
Priovavelmente era um momento de glória.
Por mais que um belo decote encante, o excesso deles tirou boa parte da graça.
A superexposição tira o encanto das coisas. Nos habituamos a elas.
O sujeito que vive em uma ilha paradisíaca não olha tudo com os mesmos olhos do turista.
Aquela bela paisagem é parte do seu cotidiano, é banal.
De vez em quando deve olhar em volta e pensar: Como eu tenho sorte!
Mas isso vai se tornando cada vez menos frequente, ao longo do tempo.
As coisas fáceis demais perdem a graça.
Tudo precisa ter mistério, surpresas, até causar um pouco de medo.
Aí reside a graça, a emoção da coisa toda.
Conseguir tudo de mão beijada faz a coisa em si perder o valor.
O que deu trabalho para conquistar é bem melhor.
Vi isso bem no estúdio da minha banda, para usar um exemplo sem nada a ver com o assunto.
Começou sem nada, e foi sendo construído aos poucos, passo a passo.
O amor que eu criei naquele lugar, em ter aquela banda que também surgiu do nada, sem recurso nenhum...
É indescritível.
É o meu lugar.
Se tivesse caído do céu, pronto, não teria o mesmo valor daquele de caixas de ovo coladas à mão, uma a uma.
Com as pessoas, pelo menos eu encaro da mesma forma.
Se quer saber, eu ainda lembro da garota do ônibus.
Se a amiga dela usava um decote grande, eu não sei.
Seria só mais uma a ser observada e esquecida.
Mas a do vestido...

sábado, 20 de setembro de 2008

Da série: Astrofísica numa hora dessas?

Esses dias mesmo.
Fui na banca comprar uma Superinteressante. Era um domingo de manhã, daqueles bem típicos e preguiçosos, nos quais tudo parece acontecer mais devagar.
Encontrei um sujeito que não via há um longo tempo. Ainda é um grande amigo, mas, Deus, há quanto tempo não falava com o cidadão...
Conversamos um pouco sobre comos os grupos acabam se separando.
Parei pra pensar um pouco sobre como a vida é feita de fases.
Ah, naquela época eu namorava com tal fulana, andava com aquela turma, naquela época tinha aquele determinado hábito.
Mudamos nosso modo de agir, mudamos nossa aparência.
Temos um duplo prazer. O primeiro é achar que estamos lindos e irresistíveis, com nossas belas roupas e nosso moderníssimo corte de cabelo, o segundo é olhar as mesmas fotos daqui a alguns anos e rir.
Como eu tinha coragen de sair na rua assim?
Nos lembramos de coisas simples, de matar uma aula na casa de alguém, uma piada interna.
Uma música ruim que traz boas lembranças, como alguém que gosto muito me disse hoje.
As coisas simplesmente vão passando.
Uma daqueles amigos está fazendo faculdade, um trabalha, um se mudou. Nada mais é do jeito que era. As pesosas se interessam por novas coisas, seguem novos caminhos, mudam sua cabeça e pronto.
Foi-se a mágica do momento, devagar e sutilmente, de modo a acabar nem fazendo tanta falta assim.
Um mês e uma situação totalmente nova.
O que já me pareceu imprescindível, hoje é desnecessário.
Aquela amizade que era quase irmandade, o amor da uma vida que durou alguns meses, tudo passou e eu fiquei.
Em boa companhia, normalmente.
Tenho uma sorte incrível com pessoas.
Por mais que elas passem, sempre estou cercado de pessoas incomuns.
É o que me consola.
Já me queixei muito do passado, já falei dele com saudade, tristeza e raiva.
Agora me sinto em paz comigo mesmo.
Esse ciclo que se inicia parece estar começando bem.
Parece que me resolvi comigo mesmo, pelo menos nessa semana.
Andando sozinho num lugar lotado, percebi que, por mais que tudo mude, sou muito apegado mesmo a mim. Amo meus gostos, minhas frases, meus livros e cds.
Amo minhas coisas e minhas opiniões, e minhas lembranças.
Por mais que os astrofísicos digam o contrário, o centro do universo sou eu.
Digo isso da maneira menos egocêntrica possível.
Sou o centro de um universo em constante mudança e expansão, e as mudanças estão vindo, novas cosias nunca antes vistas estão chegando.
Mas deixa pra lá.
A reflexão já chegou na astrofísica.
E está tarde.

Boa noite.
Àquela garota excêntrica, uma salva de palmas.
E um pouco de admiração contida.
Obrigado por ser você.
Me dá um pouco de esperança no mundo, pra falar a verdade.